sexta-feira, abril 04, 2014

Em busca de Iara, de Flavio Frederico **


Documentários de viés subjetivo, em que algum de seus realizadores tem uma ligação emocional próxima com o objeto de sua temática, sempre terão um certo caráter narcisista. Assim, o que pode efetivamente determinar a qualidade artística de tais obras é a forma com que elas lidam com esse aspecto de egocentrismo. Em “Elena” (2012), por exemplo, o verdadeiro foco da obra estava na forma com que os fatos mostrados na tela afetavam a própria vida da diretora Petra Costa, mas a cineasta fazia com que essa egotrip recebesse um tratamento estético diferenciado e tivesse também um alcance humanista que fugia dos clichês e obviedades. Já “Em busca da Iara” (2013) esse equilíbrio entre o pessoal e o universal não consegue se estabelecer num nível satisfatório. O filme do diretor Flávio Frederico mostra a vida da guerrilheira Iara Iavelberg, principalmente o período em que viveu na clandestinidade durante a ditadura militar, tendo como principal norte as impressões da roteirista Mariana Pamplona, sobrinha de Iara. O texto intimista de Mariana é quem guia os passos da produção, tanto na valorização de depoimentos diversos quanto no caráter informativo do uso de imagens e documentos. Por várias vezes, a roteirista se coloca até como “personagem” do documentário, tanto aparecendo de corpo e voz nas entrevistas como interagindo de forma mais pessoal com entrevistados. Talvez o principal motivo para uma presença tão ostensiva da roteirista esteja na semelhança física com a sua tia, como se Mariana e o diretor quisessem dar a impressão de uma versão rediviva da protagonista pairando sobre amigos, antigos companheiros e mesmos os inimigos da época. A verdade, entretanto, é que a presença de Mariana acaba sendo prejudicial para a dinâmica da narrativa – gasta-se muito tempo mostrando deslocamentos, tratativas para entrevistas e outros episódios burocráticos ou prosaicos que tiram boa parte da objetividade e contundência do documentário. Tendo ainda um tratamento formal rotineiro na combinação de material de arquivo com entrevistas, “Em busca de Iara” acaba ficando no meio do caminho: até informativo como material histórico, mas insosso como produto cinematográfico.

2 comentários:

Marcelo Castro Moraes disse...

Pretendo ver nesse final de semana

Anônimo disse...

onde encontrar este filme Online??