O cinema do diretor coreano Kim Ki-duk sempre procurou um
equilíbrio entre o olhar contemplativo tipicamente oriental com uma estrutura tradicional
de melodrama sutil. Filmes como “Casa vazia” (2004) e “O arco” (2005) são
exemplares fiéis dessa tendência artística do cineasta. Em “Pietá” (2012),
Ki-duk ainda envereda pelo seu particular estilo, mas acrescentando uma porção
bem maior de violência e melancolia. O resultado final é um desolador conto
moral sobre a brutalidade econômica e a falta de compaixão na sociedade
sul-coreana contemporânea (e, por tabela, do próprio mundo capitalista
pós-moderno). É claro que no mote principal de sua trama o filme tem um viés
intimista ao mostrar a conturbada relação entre um truculento e impiedoso
cobrador de vítimas de agiotagem e a sua suposta mãe. Mas aos poucos, a
narrativa vai ganhando uma conotação simbólica ao retratar um cotidiano de
dificuldades financeiras e insuportáveis coações físicas em áreas urbanas
degradadas de uma grande metrópole. Por vezes a trama permite algum respiro ao
flagrar raros momentos de algum sentimento mais nobre em seus personagens, mas
isso apenas aumenta o grau de choque nas explosões de violência e tragédia que
irrompem de forma inesperada e impiedosa. Kim Ki-duk tem alguns truques
perversos na cartola – em determinados momentos no faz acreditar em alguma
possibilidade de redenção para as suas criaturas, mas isso é ilusório, pois, em
sua essência, “Pietá” é uma obra que versa sobre a vingança levada às últimas conseqüências,
fazendo lembrar a inesquecível trilogia da vingança concebida pelo também
sul-coreano Chan-wook Park. A crueldade temática de Ki-duk vem acompanhada de
uma concepção formal extraordinária, repleta de planos de expressiva beleza
pictórica e uma narrativa exasperante na sua capacidade de criação de tensão
dramática.
2 comentários:
Achei que Kim Ki-duk fosse coreano por fazer filmes na Coreia. iria ter um curso sobre o cinema coreano, o que acabou não acontecendo e esse filme seria bastante analisado.
Putz, que deslize. O cara é coreano mesmo. Valeu pela correção.
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