terça-feira, fevereiro 03, 2015

O enigma chinês, de Cédric Klaspich **


O objetivo do diretor francês Cédric Klaspich na trilogia “O albergue espanhol” (2002), “Bonecas russas” (2004) e “O enigma chinês” (2013) era ao mesmo tempo simples e ambicioso: traçar a trajetória pessoal de um punhado de personagens, mostrando questões como amadurecimento e busca por estabilidade emocional entre jovens adultos europeus de classe média, com foco principal no protagonista Xavier (Romain Duris), um aspirante a escritor sempre enrolado em questões sentimentais. Ocorre, entretanto, que ao observar a obra que dá conclusão a esse projeto, fica-se com a impressão de que as boas intenções artísticas do realizador ficaram somente no plano das ideias mesmo. O grande problema do filme de Klaspich é que sua estrutura narrativa se baseia em uma abordagem um tanto superficial e banal, que apenas tangencia de forma ligeira o cerne de situações complexas. Ao invés de optar por uma visão contundente e lúcida sobre os assuntos centrais de sua temática, o que implicaria numa estética mais apurada, o cineasta se contenta em formatar tudo como uma comédia romântica derivativa. É claro que por vezes “O enigma chinês” cativa o espectador pela comicidade de algumas sequências, além do carisma natural de seu elenco principal. No geral, entretanto, a trama se desenrola sem o menor traço de tensão dramática, em que todos os dilemas de seus personagens se resolvem com facilidade incômoda. O cândido final feliz reservado para Xavier é uma síntese das escolhas pouco ousadas da produção e da própria trilogia.