No estranho misto de ficção científica e conto gótico de
horror de “Prometheus” (2012) e no policial de ambiências rarefeitas “O
conselheiro do crime” (2013), o diretor Ridley Scott buscou caminhos
inesperados para o seu cinema, desviando com habilidade de boa parte dos clichês
narrativos que por vezes vinham impregnando seus filmes anteriores. Tal ousadia
rendeu alguns narizes torcidos por parte de público e crítica. Assim, “Êxodo:
Deuses e reis” (2014) é a volta de Scott a concepções formais mais digeríveis,
assim como marca o seu retorno a um gênero no qual já havia enveredado, o dos filmes
de época épicos (vide “Gladiador” e “Cruzadas”). Talvez a novidade seja que o
cineasta agora busque inspiração em episódios bíblicos. Nesse sentido, dá para
dizer que há um diferencial nessa nova versão cinematográfica da vida de Moisés
em relação ao clássico “Os dez mandamentos” (1956) de Cecil B. DeMille: Scott
realmente procurou adaptar a história para um tipo de abordagem mais contemporânea.
Assim, o Moisés (Christian Bale) dessa nova adaptação é quase um super-herói
guerreiro, uma espécie de misto do Maximus de “Gladiador” (2000) e Batman. Há
uma grande ênfase no detalhismo gráfico das cenas de batalha, caracterizações
dramáticas caricaturizadas, temas musicais ostensivos beirando o barulhento. Ou
seja, a sutileza passa longe daqui... As escolhas estéticas de Scott por vezes
são eficientes e divertem como entretenimento, mas no geral dão origem a uma
obra genérica e pouco memorável. Esse tratamento artístico acaba deixando de
lado alguns aspectos interessantes e até intrigantes de “Êxodo”. O maior deles é
a forma como Deus é retratado na trama, na figura de uma criança com rompantes
vingativos e cruéis, cujos desígnios beiram o capricho, o que provoca dúvidas
existenciais que atormentam Moisés. Scott poderia ter explorado mais esse lado
contraditório da natureza das intenções divinas e os consequentes questionamentos
de seu protagonista (guardada às devidas proporções, tal dilema faz lembrar o
cerne da obra-prima “A última tentação de Cristo” de Martin Scorsese). O
diretor preferiu, entretanto, reduzir tal dubiedade e se concentrar no simples
espetáculo moralista. Aliás, não é curioso que em 2014, ano marcado pelo maior
endurecimento da política de ocupação e repressão dos judeus em relação aos
palestinos, tenham sido lançados “Noé” e “Êxodo”, obras que enfatizam o papel
dos judeus como escolhidos de Deus?
Um comentário:
Assisti a esse filme e devo confessar que devo assistir de novo, pois não consegui capitar para qual caminho o diretor realmente quis ir
Postar um comentário