Certas escolhas formais e temáticas em um filme podem
sugerir ousadia e maturidade por parte daqueles que se envolveram na realização,
no sentido de que eles se afastam de critérios comerciais ou de mero
entretenimento para oferecer às platéias um espetáculo mais profundo e
questionador. Por vezes, entretanto, tal direcionamento artístico mais revela
uma busca por credibilidade do que um desejo em trilhar caminhos menos óbvios. E
é dentro dessa segunda alternativa que “Livre” (2014) parece melhor se
encaixar. A caracterização pretensamente desglamourizada de Reese Witherspoon
no papel da protagonista Cheryl Strayed, a encenação naturalista, a evocação de
um estilo documental na estética e a relação de temas adultos na trama (famílias
disfuncionais, drogas, promiscuidade sexual, redenção e afins), em um primeiro
momento, dão a impressão de uma abordagem desafiadora por parte do diretor
Jean-Marc Valée, mas a forma com que a narrativa se desenvolve evidencia um
convencionalismo banal, que nivela o filme naquele nicho de dramas de superação
pessoal que o pessoal que escolhe os indicados para o Oscar tanto gosta. Não
adianta mostrar Witherspoon sem maquiagem e com as unhas caindo se a cada cinco
minutos tem alguém proferindo uma lição de vida no puro estilo autoajuda ou ter
à disposição belos cenários naturais se o registro visual adotado dá a impressão
de um cartão postal ambulante. Falta aquela centelha criativa e espontânea que
tornaria “Livre” uma experiência sensorial mais efetiva.
Um comentário:
O melhor momento da carreira da atriz
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