segunda-feira, março 08, 2010

El Topo, de Alejandro Jodorowsky ****


É difícil tentar definir “El Topo” (1971) sem cair em reducionismos. Pode-se citar prováveis (ou discutíveis) referências, mas mesmo assim quem não assistiu a essa obra clássica do chileno Alejandro Jodorowsky continuaria sem ter a devida idéia do que ela representa. Até porque o diretor não parte apenas de elementos cinematográficos – na verdade, busca inspiração também em aspectos esotéricos e existenciais.

“El Topo” parece começar em um pique de faroeste mestiço, na linha espagueti, com seu personagem-título vagando a cavalo em deserto acompanhado por uma criança (seria um filho?) pelada. Logo, entretanto, essa premissa mostra-se insuficiente e o filme descamba para trama e imagens que revelam as obsessões estéticas e místicas de Jodorowsky. A ação é antinaturalista e estilizada, em uma narrativa tomada por simbologias obscuras, o que acaba se refletindo em um senso barroco de composição de cena – os enquadramentos chegam a evocar um tom pictórico nas divisões de cenas. Há também no filme um clima blasfemo permanente, na mesma medida que conceitos cristãos como culpa e redenção são primordiais nas intenções temáticas do diretor – o ideário de Jodorowsky é difuso e escorregadio nas suas definições.

Opiniões apressadas e simplistas costumam colocar “El Topo” no nível de apenas mais uma excentricidade cult. Nada mais equivocado. Afinal, é só observar como ainda influencia muito do que é feito no cinema contemporâneo, a começar pela filmografia de David Lynch, admirador confesso de Alejandro Jodorowsky.

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