terça-feira, março 02, 2010

Preciosa, de Lee Daniels ***


“Preciosa” (2009) abusa de quase todos os preceitos do gênero cinematográfico de dramas de superação pessoal. A vida da personagem-título é um verdadeiro calvário de provações e privações: pobre, analfabeta, obesa, brutalizada pela mãe, violentada pelo pai, com dois filhos incestuosos e soropositiva. É claro que no meio de tanta desgraça, o filme desemboca em várias seqüências lacrimosas, além de algumas lições edificantes de vida. O diretor Lee Daniels, entretanto, oferece uma concepção formal envolvente para “Preciosa” ao combinar diferentes elementos estéticos. Em vários momentos, evoca uma narrativa influenciada por neo-realismo italiano, com direito até a uma auto-gozação nesse sentido quando a protagonista se vê numa produção pastiche da época. No meio dessa linguagem naturalista, há toques de delírios nos devaneios da garota quando a mesma se encontra nos instantes mais extremos de suas dificuldades. Há também uma certa dose de cinema “blackexploitation” setentista nas seqüências de Preciosa caminhando pelas ruas ao som de uma trilha sonora soul e funk.

No mais, as participações de Mariah Carey e Lenny Kravitz no elenco são curiosas e surpreendentes – eles são bem mais convincentes no cinema do que na música.

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