Alguns comentários recorrentes sobre “Invictus” (2009) colocam o mesmo como uma obra menor de Clint Eastwood, além de reclamarem do tom sentimental e óbvio de algumas passagens. É claro que a produção não está no mesmo nível de obras-primas de Eastwood como “Josey Wales” (1976), “Os Imperdoáveis” (1992) ou “Sobre Meninos e Lobos” (2003). Também é inegável que determinadas seqüências pecam pela obviedade e redundância, principalmente pela trilha sonora incidental burocrática e a ingenuidade discursiva de parte das falas de Mandela (Morgan Freeman em interpretação excessivamente indulgente). Mesmo assim, “Invictus” é uma obra de impacto acima da média. Eastwood tem momentos fenomenais de domínio da narrativa, como aquele plano inicial em que se faz o contraste entre um treino de rugby de um time de brancos e uma partida de futebol entre jovens negros em um campo precário. A forma com que o cineasta filma as partidas decisivas de rugby também é outro triunfo artístico, com Eastwood entrelaçando diversas tomadas entre lances épicos no campo e o efeito sobre as arquibancadas e a própria cidade (os detalhes das ruas vazias e do menino de rua que confraterniza com os motoristas de táxis são prodigiosos). E mesmo no aspecto temático de “Invictus”, por mais que haja simplificações sobre a complexa situação social da África do Sul, predomina uma visão humanista até profunda sobre as contradições e dificuldades que marcam as relações raciais no país.
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