segunda-feira, março 01, 2010

O Segredo dos Seus Olhos, de Juan José Campanella ***


Dentro de “O Segredo dos Seus Olhos” (2009) parece haver mais de um filme. Há uma trama policial, uma história de amor, uma crônica política. O diretor argentino Juan José Campanella não consegue equacionar bem essas diferentes tramas, fazendo com que as mesmas sejam destoantes entre si. O lado romântico do filme é perfeitamente descartável em relação ao restante do filme e mal ajambrado. Afinal, o que impedia que o casal de protagonistas tivesse ficado junto durante os anos 70 se eles eram adultos e solteiros? O lado político da produção também não diz muito a que veio, pois a questão da ditadura militar que aproveitava bandidos no seu aparelho repressivo irrompe gratuitamente depois da metade do filme, sendo que até aquele momento não havia qualquer menção a mesma. O que mantém o interesse em “O Segredo dos Seus Olhos” é a sua trama policial envolvente ao retratar a obsessão e a persistência do perito Espósito (Ricardo Darin) em solucionar um caso de estupro seguido de assassinato. O desenlace final, entretanto, é frustrante ao buscar uma conclusão esdrúxula, típica de uma produção rasteira e que não combina com o tom elegante da narrativa de Campanella. Esse tropeço não apaga as boas qualidades da obra em questão, principalmente pela atuação de Guillermo Francella (em ótima caracterização de um bêbum) e pela excelente seqüência de perseguição no estádio de futebol do Racing, que começa com uma vertiginosa tomada aérea e desemboca em um estonteante plano seqüência.

3 comentários:

G disse...

"Afinal, o que impedia que o casal de protagonistas tivesse ficado junto durante os anos 70 se eles eram adultos e solteiros?"

Ha mais coisas entre o amor e a morte que o espectador possa imaginar. Ahn. Pq ela era chefe dele? Pq ela era mais rica que ele? Pq ele, em funcao disso, nunca se declarou e ela, como profissional, nao poderia assediar um subordinado? Ou quem sabe pq, simplesmente, como ela era notoriamente mais bonita e esperta que ele, nunca cogitou que fosse ela quem deveria dar o primeiro passo? E ele também nao o deu pq estava obcecado demais com a historia policial (na verdade era uma historia de amor) nao tinha tempo para viver a sua propria historia? Pq a historia politica e a historia policial nada mais sao do que historias de amor?

Pq tudo que nao tem uma resposta obvia é descartável?? - como o amor dos dois = a resposta está na pergunta.

André Kleinert disse...

Os possíveis dilemas que levaram o casal a não ficar ficar juntos quando mais jovens são mais século XIX que o próprio século XIX, afinal na década de 70 do século passado não existiam os mesmos freios morais e comportamentais do século XIX. Putz, eles não se dignaram nem ao mesmo a ter um caso! Até a Madame Bovary era mais prafrentex que eles.
O que me incomoda na questão da história do filme também é o fato dela servir como uma espécie de atenuante/justificativa para a trama policial. É como se o diretor pensasse: "bah, fazer um filme policial puro não é algo digno, preciso colocar algo de mais elevado espiritualmente para compensar". Esse diretor devia ver "Operação França" e "Viver e Morrer em Los Angeles" para ver que um bom filme policial não precisa de subterfúgios para se justificar.

G disse...

Isso é subestimar a presença das mulheres no cinema. Interessante citar o Friedkin, que além de tratar muito mal suas atrizes quase nunca usava mulheres em seus filmes e quando usava, elas eram vítimas de extrema violência física e/ou psicológica (na tela e atrás das câmeras). Acho tua opinião extremamente machista e louvável que o Campanella perceba a linha tênue entre um caso de amor e um caso policial, o que, na minha humilde opinião, foi o que ele quis demonstrar cruzando as histórias. O casal ficou junto depois de 30 anos justamente pq o caso policial demorou 30 anos para ser resolvido. O amor não é um sibterfúgio, é a essência.