Os primeiros minutos de “A Todo Volume” (2008) fazem pressupor que se verá um tratado sobre a guitarra elétrica. Nas tomadas iniciais, Jack White, líder dos White Stripes e dos Raconteurs, fabrica uma rústica versão do que seria uma guitarra, e logo após nos créditos há closes ostensivos e apaixonados sobre os corpos de tais instrumentos em ação. Ao longo do documentário, entretanto, pode-se constatar que o verdadeiro foco da atenção é o rock and roll, traçando de forma fascinante a origem e evolução do gênero.
Os protagonistas de “A Todo Volume” são os guitarristas de bandas de relevo: Jimmy Page, do Led Zeppelin; The Edge, do U2; e o já referido Jack White. Tais grupos representam facetas diferentes e também complementares dentro do rock. O hard rock puxado para o blues do Led Zeppelin é uma das influências primordiais do punk blues garageiro dos White Stripes e dos Raconteurs. Já o U2, em sua origem, foi cria do movimento punk e na sua trajetória incorporou elementos diversos, indo do gospel ao eletrônico. Dentro desse contexto de estilos variados, “A Todo Volume” não direciona sua atenção para os detalhes técnicos e as capacidades virtuosísticas dos instrumentistas que são personagens do filme. Para o diretor Duggenheim, o que interessa é mostrar como a guitarra se insere em termos de composição e arranjo para a música. Tanto para o cineasta como para Page, The Edge e White, o instrumento é um meio, e não um fim em si. Tanto que em algumas seqüências de “A Todo Volume”, White aparece tocando piano ou ouvindo um compacto do bluesman Son House que consiste apenas de palmas e voz, apontando como sua canção favorita de todos os tempos. Assim, apenas confirma aquela velha máxima: no verdadeiro rock and roll, o que menos interessa é o “tocar bem” (ou seja, a técnica), valendo mesmo a intensidade e a criatividade.
Guggenheim filma seus protagonistas em depoimentos individuais e interagindo ora em conversas ora tocando juntos. Os trechos com as falas de Jimmy Page são os mais emocionais. Nas suas recordações, narra a angústia de quando era um requisitado músico de estúdio, mas sentido a necessidade de encontrar um veículo para manifestar suas reais obsessões artísticas. Ao ser questionado sobre qual seria uma das suas inspirações, Page acaba tendo um dos momentos mais luminosos de “A Todo Volume”: coloca na vitrola um velho compacto de “Rumble”, de Link Wray (canção utilizada também em “A Balada do Pistoleiro” e “Pulp Fiction”), tema instrumental lento, pesadão e barulhento, fazendo movimentos de guitarra imaginária e rindo como um garoto. The Edge rende momentos mais sóbrios e reflexivos, contando como fatos sociais importantes (os conflitos políticos e armados na Irlanda, principalmente) interferiram na musicalidade do U2 e deram origem a algumas da mais conhecidas canções da banda. Já White ganhou as seqüências mais divertidas e ousadas esteticamente do documentário. Guggenheim concebeu recriações cômicas da história do rapaz, com destaque do seu crescente envolvimento com música e da sua constante procura pelas raízes do rock. O próprio White atua como seu intérprete, além de ganhar uma versão infantil sua com quem até faz uma inusitada “jam session”.
Além das entrevistas, Guggenheim se vale de um rico e farto material de imagens e sons para ilustrar sua viagem pelas seis cordas e pelo rock. Há registros fílmicos preciosos como os de Jimmy Page tocando em um show de calouros com 14 anos de idade ou atuando ao lado dos clássicos Yardbirds, além de um primitivo clip do U2 com seus membros recém saindo da puberdade. De registros mais recentes, destaque absoluto para um concerto dos Raconteurs, com White tocando até sangrar as mãos e sujar a sua guitarra antes imaculadamente branca.
“A Todo Volume” não é apenas uma animada (e, por que não?, didática) aula sobre o rock and roll. É também uma deslavada declaração de amor a um gênero musical que, apesar de tão criticado e vilipendiado, é ainda decisivo no imaginário cultural de milhões de pessoas.
P.S.: há um momento em “A Todo Volume” em que Jimmy Page mostra o casarão onde reside, local em que o Led Zeppelin gravou o seu célebre quarto disco, com Page destacando a ampla sala em que John “Bonzo” Bonham teria feita o imponente registro de bateria da canção “When The Levee Break”. Ocorre que o U2 reproduziu digitalmente essa peculiar sonoridade da bateria de Bonham na música “Bullet The Blue Sky” do álbum “The Joshua Tree”. Seria apenas coincidência a menção de Jimmy Page?
Os protagonistas de “A Todo Volume” são os guitarristas de bandas de relevo: Jimmy Page, do Led Zeppelin; The Edge, do U2; e o já referido Jack White. Tais grupos representam facetas diferentes e também complementares dentro do rock. O hard rock puxado para o blues do Led Zeppelin é uma das influências primordiais do punk blues garageiro dos White Stripes e dos Raconteurs. Já o U2, em sua origem, foi cria do movimento punk e na sua trajetória incorporou elementos diversos, indo do gospel ao eletrônico. Dentro desse contexto de estilos variados, “A Todo Volume” não direciona sua atenção para os detalhes técnicos e as capacidades virtuosísticas dos instrumentistas que são personagens do filme. Para o diretor Duggenheim, o que interessa é mostrar como a guitarra se insere em termos de composição e arranjo para a música. Tanto para o cineasta como para Page, The Edge e White, o instrumento é um meio, e não um fim em si. Tanto que em algumas seqüências de “A Todo Volume”, White aparece tocando piano ou ouvindo um compacto do bluesman Son House que consiste apenas de palmas e voz, apontando como sua canção favorita de todos os tempos. Assim, apenas confirma aquela velha máxima: no verdadeiro rock and roll, o que menos interessa é o “tocar bem” (ou seja, a técnica), valendo mesmo a intensidade e a criatividade.
Guggenheim filma seus protagonistas em depoimentos individuais e interagindo ora em conversas ora tocando juntos. Os trechos com as falas de Jimmy Page são os mais emocionais. Nas suas recordações, narra a angústia de quando era um requisitado músico de estúdio, mas sentido a necessidade de encontrar um veículo para manifestar suas reais obsessões artísticas. Ao ser questionado sobre qual seria uma das suas inspirações, Page acaba tendo um dos momentos mais luminosos de “A Todo Volume”: coloca na vitrola um velho compacto de “Rumble”, de Link Wray (canção utilizada também em “A Balada do Pistoleiro” e “Pulp Fiction”), tema instrumental lento, pesadão e barulhento, fazendo movimentos de guitarra imaginária e rindo como um garoto. The Edge rende momentos mais sóbrios e reflexivos, contando como fatos sociais importantes (os conflitos políticos e armados na Irlanda, principalmente) interferiram na musicalidade do U2 e deram origem a algumas da mais conhecidas canções da banda. Já White ganhou as seqüências mais divertidas e ousadas esteticamente do documentário. Guggenheim concebeu recriações cômicas da história do rapaz, com destaque do seu crescente envolvimento com música e da sua constante procura pelas raízes do rock. O próprio White atua como seu intérprete, além de ganhar uma versão infantil sua com quem até faz uma inusitada “jam session”.
Além das entrevistas, Guggenheim se vale de um rico e farto material de imagens e sons para ilustrar sua viagem pelas seis cordas e pelo rock. Há registros fílmicos preciosos como os de Jimmy Page tocando em um show de calouros com 14 anos de idade ou atuando ao lado dos clássicos Yardbirds, além de um primitivo clip do U2 com seus membros recém saindo da puberdade. De registros mais recentes, destaque absoluto para um concerto dos Raconteurs, com White tocando até sangrar as mãos e sujar a sua guitarra antes imaculadamente branca.
“A Todo Volume” não é apenas uma animada (e, por que não?, didática) aula sobre o rock and roll. É também uma deslavada declaração de amor a um gênero musical que, apesar de tão criticado e vilipendiado, é ainda decisivo no imaginário cultural de milhões de pessoas.
P.S.: há um momento em “A Todo Volume” em que Jimmy Page mostra o casarão onde reside, local em que o Led Zeppelin gravou o seu célebre quarto disco, com Page destacando a ampla sala em que John “Bonzo” Bonham teria feita o imponente registro de bateria da canção “When The Levee Break”. Ocorre que o U2 reproduziu digitalmente essa peculiar sonoridade da bateria de Bonham na música “Bullet The Blue Sky” do álbum “The Joshua Tree”. Seria apenas coincidência a menção de Jimmy Page?
Um comentário:
Na verdade, o Scorsese foi produtor da série "Blue: Uma Jornada Musical", sendo que dirigiu o melhor episódio: "Feel Like Going Home", uma obra-prima na minha opinião, tão bom quanto "Bob Dylan: No Direction Home".
Postar um comentário