A primeira coisa que chama a atenção em “A Fita Branca” (2009) é a direção de fotografia. Composições de cenas, enquadramentos e iluminação produzem um efeito quase pictórico na sua precisão visual. Mas a beleza oriunda dessa concepção de imagens é glacial, o que está em sintonia com a narrativa e a parte temática da obra. A edição tem poucos cortes, com Haneke privilegiando tomadas longas e a câmera movendo-se discretamente. Toda a abordagem é anti-climática, e mesmo seqüências que seriam reveladoras acabam recebendo um tratamento desapaixonado e distante. Esse estilo cerebral de Haneke pode ser adequado ao retratar a história de uma pequena vila alemã aterrorizada por inexplicáveis episódios de violência que nunca se esclarecem, e parece reafirmar o conceito de que a possibilidade de existência da brutalidade em uma sociedade pretensamente civilizada importa mais do que propriamente saber quem comete tal brutalidade, teoria que Haneke já havia lapidado em “Cachê” (2005). Ao mesmo tempo, entretanto, tal estilo torna “A Fita Branca” uma produção que não arrebata o espectador justamente por essa contenção formal que se prende ao rigor intelectual do cineasta em elaborar a sua parábola política e social.
Nenhum comentário:
Postar um comentário