sexta-feira, março 12, 2010

Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo, de Marcelo Gomes e Karim Aïnouz ***


Há em “Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo” (2009) uma proposta estética ousada e instigante. Os diretores Marcelo Gomes e Karim Aïnouz combinam rústicas tomadas documentais e fotografias com um texto ficcional. O que dá sentido às imagens aparentemente aleatórias é a narração do personagem principal, um geólogo que faz uma viagem de quase um mês pelo sertão nordestino para pesquisar regiões que serão alagadas devido à transposição de um rio. O monólogo do protagonista oscila de forma desconcertante das descrições objetivas e profissionais que faz do seu projeto até confissões e impressões pessoais sobre os locais que visita e a confusão emocional que sente. Recém-separado da companheira, faz da viagem uma espécie de expurgo de frustrações e desejos. Conversando com os nativos, divertindo-se com prostitutas e contemplando o tempo passar lenta e inexoravelmente, ele faz da sua jornada pelas estradas poeirentas uma espécie de reavaliação existencial.

A câmera em “Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo” é sempre subjetiva – o que as imagens retratam é aquilo que está sob o olhar do geólogo. A intenção é compartilhar de forma constante as sensações do personagem em questão: tédio, frustração, diversão, prazeres fugazes, melancolia, expectativas. Essa escolha formal é arriscada, afinal, nem tudo que o rapaz vê pode ser interessante, mas é coerente com a concepção temática da obra. A banalidade, o corriqueiro e o enfado da rotina do viajante, aos poucos, formam um todo envolvente e que adquire sentido na enigmática e poética seqüência final do filme.

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