Figura das mais cultuadas e emblemáticas da história do rock underground norte-americano, o cantor GG Allin, morto em 1993, extrapolava a sua própria música. Adepto da cuprofilia e da automutilação em seus shows (que invariavelmente terminavam em violência e confusão), Allin também adotava uma postura delirante que oscilava entre o filosófico e o místico. E é claro que apesar de causar temor e espanto por onde tocasse, também atraía uma legião de admiradores. Um dos grandes méritos de “Hated” (1993), documentário biográfico sobre a figura, está justamente numa visão ambígua que se oferece sobre o músico. Em determinadas seqüências do filme, a lente do diretor Todd Philips é quase de admiração e atração pela figura de um homem que era um legítimo outsider perante uma sociedade que cultivava ainda parte do já decadente “sonho americano”. Ao mesmo tempo, Philips consegue evidenciar a face assustadora do artista em plena desagregação física e psíquica. Ao mostrar o depoimento de antigos amigos e colegas da juventude de Allin, parece haver o questionamento implícito de que a loucura do mesmo é a reação consequente e desproporcional a uma sociedade moralista e obscurantista. Mesmo tais interpretações, contudo, possuem o pendor da ambiguidade em “Hated”, como se qualquer tentativa de entendimento concreto sobre Allin pudesse cair em reducionismos.
“Hated” também cativa pelos antológicos registros de GG Allin em ação. Vociferando suas canções punk rock, discursando seu perturbado ideário ou espancando algum pobre coitado da platéia, Allin sempre desconcertava por simplesmente ser imprevisível, uma verdadeira força da natureza. Como não ficar retido na memória, por exemplo, o momento em que ele espalha as próprias fezes no rosto e sai correndo atrás da platéia que foge apavorada diante da dantesca visão?? Recusando, apesar de tudo, o choque gratuito, Todd Phillips consegue conciliar essa série de retratos de demências e escatologias com uma visão lúcida e permeada por uma sutil ironia. Ele sabe que tentar enquadrar Allin tanto numa ótica de louvação quanto num olhar moralista seria patético e equivocado, o que faz de “Hated” uma extraordinária experiência cinematográfica sobre a loucura humana e a arte que pode vir dela.
“Hated” também cativa pelos antológicos registros de GG Allin em ação. Vociferando suas canções punk rock, discursando seu perturbado ideário ou espancando algum pobre coitado da platéia, Allin sempre desconcertava por simplesmente ser imprevisível, uma verdadeira força da natureza. Como não ficar retido na memória, por exemplo, o momento em que ele espalha as próprias fezes no rosto e sai correndo atrás da platéia que foge apavorada diante da dantesca visão?? Recusando, apesar de tudo, o choque gratuito, Todd Phillips consegue conciliar essa série de retratos de demências e escatologias com uma visão lúcida e permeada por uma sutil ironia. Ele sabe que tentar enquadrar Allin tanto numa ótica de louvação quanto num olhar moralista seria patético e equivocado, o que faz de “Hated” uma extraordinária experiência cinematográfica sobre a loucura humana e a arte que pode vir dela.
2 comentários:
Pelo que você contou nesse texto, ele parece (minha impressão, que fique claro!) mais bizarro do que o Marilyn Manson. Fiquei curioso pelo filme!
Cultura na web:
http://culturaexmachina.blogspot.com
O lance do Marilyn Manson é mais teatral e conceitual, algo como o Ziggy Stardust do David Bowie mais distorcido e violento. Já a questão do GG Allin é real mesmo, tudo o que ele fazia nos palcos era o reflexo direto da vida dele.
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