A seqüência inicial de “Inimigo Público nº 1 – Risco de Morte” (2008) é uma excelente amostra do real significado do filme. Jacques Mesrine (Vincent Cassel) e sua namorada Sylvia Jeanjacquot (Ludivine Sagnier) saem furtivamente de uma residência e examinam minuciosamente as cercanias. Os dois entram em um carro e saem por Paris, quando enfim são emboscados. Nesses primeiros minutos, poucas coisas acontecem, o que se tem basicamente é pessoas caminhando e lançando olhares desconfiados, mas a dinâmica da montagem, recheada de splitcameras que dividem a tela em quatro focos sobre a mesma ação em tempos ligeiramente diferentes, aliadas a uma trilha sonora tensa e onipresente, oferece uma narrativa eletrizante.
“Inimigo Público nº 1 – Risco de Morte” é a primeira parte da cinebiografia de Mesrine, um perigoso marginal francês que criou alvoroço na França e Canadá durante os anos 60 e 70. Ladrão, assassino, seqüestrador e até mesmo terrorista, Mesrine escreveu um livro narrando algumas de suas aventuras, sendo que o filme em questão se baseia nessas memórias. O diretor Jean-François Richet, entretanto, não demonstra muito interesse em desvendar os motivos que levaram o protagonista, originário da classe média, a trilhar o caminho do crime. Os fatos da vida de Mesrine não são esmiuçados e nem se estabelece uma análise psicológica dele. O que interessou para Richet foram os momentos de ação brutal e as façanhas aventurescas do bandido. Ou seja, o cineasta é ostensivamente superficial na exposição da trajetória do seu “herói”. Isso, entretanto, não é nenhum demérito para a obra. Muito pelo contrário!! “Inimigo Público nº 1” é um extraordinário triunfo estético por parte de Richet. As seqüências de ação são exemplares na sua fluência: são frenéticas, mas não apelam para o surrado recurso de câmeras tremidas ou fora do foco principal da cena. Realça-se cada detalhe da ação e do movimento dos atores. Esse preciosismo no filmar remete muito à filmografia de Michael Mann, de obras-primas como “Fogo Contra Fogo” (1995), “Colateral” (2004) e “Miami Vice” (2006).
Richet revela também uma tremenda sensibilidade para a reconstituição de época do filme. Paris em algumas seqüências, por exemplo, parece estar muito mais vinculada a um imaginário peculiar, numa ambientação estilizada que remete mais ao cinema noir e aos quadrinhos do que a uma fidelidade histórica na sua recriação. Essa caracterização estética que beira o irreal está em perfeita sintonia com o que “Inimigo Público nº 1” traz como essencial na sua concepção: a preferência em enfatizar as lendas em detrimento da simples exposição dos fatos reais. Dessa forma, o impacto sensorial, tanto por imagens ou sons (sejam musicais ou ambientais), é o que busca Richet ao oferecer ao público um Mesrine que ora parece saído de um pesadelo, ora se mostra como uma figura cativante e galante. Pesadelo e fascinação se combinam na mesma melodia...
As escolhas criativas de Richet se estendem no teor dramático das interpretações do elenco do filme. Cassel evita as sutilezas e faz de Mesrine uma figura que se move como uma força da natureza. Já Gerard Depardieu, no papel do escroque Guido, é uma síntese brilhante dos mais marcantes bandidos do antigo cinema policial norte-americano: nos olhos de Guido, não há sentimentos, mas somente uma frieza cínica e assustadora. As atuações das belas Florence Thomassin, Elena Anaya e Cecile de France são uniformes nos mesmos quesitos: estereótipos lindamente delineados de sensualidade e fragilidade, são mulheres atraídas e esmagadas pela atração irracional por Mesrine.
O cinema policial francês tem uma rica tradição, encabeçado principalmente pelo genial Jean-Pierre Melville. “Inimigo Público nº 1 – Risco de Morte” é uma obra que é herdeira legítima dessa linhagem, sendo que Jean-François Richet se junta ao excelente Olivier Marchal (diretor dos magníficos “Gangsters”, “36” e “MR73”) como um dos principais nomes dessa corrente.
“Inimigo Público nº 1 – Risco de Morte” é a primeira parte da cinebiografia de Mesrine, um perigoso marginal francês que criou alvoroço na França e Canadá durante os anos 60 e 70. Ladrão, assassino, seqüestrador e até mesmo terrorista, Mesrine escreveu um livro narrando algumas de suas aventuras, sendo que o filme em questão se baseia nessas memórias. O diretor Jean-François Richet, entretanto, não demonstra muito interesse em desvendar os motivos que levaram o protagonista, originário da classe média, a trilhar o caminho do crime. Os fatos da vida de Mesrine não são esmiuçados e nem se estabelece uma análise psicológica dele. O que interessou para Richet foram os momentos de ação brutal e as façanhas aventurescas do bandido. Ou seja, o cineasta é ostensivamente superficial na exposição da trajetória do seu “herói”. Isso, entretanto, não é nenhum demérito para a obra. Muito pelo contrário!! “Inimigo Público nº 1” é um extraordinário triunfo estético por parte de Richet. As seqüências de ação são exemplares na sua fluência: são frenéticas, mas não apelam para o surrado recurso de câmeras tremidas ou fora do foco principal da cena. Realça-se cada detalhe da ação e do movimento dos atores. Esse preciosismo no filmar remete muito à filmografia de Michael Mann, de obras-primas como “Fogo Contra Fogo” (1995), “Colateral” (2004) e “Miami Vice” (2006).
Richet revela também uma tremenda sensibilidade para a reconstituição de época do filme. Paris em algumas seqüências, por exemplo, parece estar muito mais vinculada a um imaginário peculiar, numa ambientação estilizada que remete mais ao cinema noir e aos quadrinhos do que a uma fidelidade histórica na sua recriação. Essa caracterização estética que beira o irreal está em perfeita sintonia com o que “Inimigo Público nº 1” traz como essencial na sua concepção: a preferência em enfatizar as lendas em detrimento da simples exposição dos fatos reais. Dessa forma, o impacto sensorial, tanto por imagens ou sons (sejam musicais ou ambientais), é o que busca Richet ao oferecer ao público um Mesrine que ora parece saído de um pesadelo, ora se mostra como uma figura cativante e galante. Pesadelo e fascinação se combinam na mesma melodia...
As escolhas criativas de Richet se estendem no teor dramático das interpretações do elenco do filme. Cassel evita as sutilezas e faz de Mesrine uma figura que se move como uma força da natureza. Já Gerard Depardieu, no papel do escroque Guido, é uma síntese brilhante dos mais marcantes bandidos do antigo cinema policial norte-americano: nos olhos de Guido, não há sentimentos, mas somente uma frieza cínica e assustadora. As atuações das belas Florence Thomassin, Elena Anaya e Cecile de France são uniformes nos mesmos quesitos: estereótipos lindamente delineados de sensualidade e fragilidade, são mulheres atraídas e esmagadas pela atração irracional por Mesrine.
O cinema policial francês tem uma rica tradição, encabeçado principalmente pelo genial Jean-Pierre Melville. “Inimigo Público nº 1 – Risco de Morte” é uma obra que é herdeira legítima dessa linhagem, sendo que Jean-François Richet se junta ao excelente Olivier Marchal (diretor dos magníficos “Gangsters”, “36” e “MR73”) como um dos principais nomes dessa corrente.
2 comentários:
Esplendoroso! E tem gente que ainda critica o Vincent Cassell, chamando-o de ator menor. Uma das melhores coisas que eu vi esse ano.
Cultura na web:
http://culturaexmachina.blogspot.com
Tu viste a continuação? É igualmente fantástica. E o Cassell é um dos atores mais geniais da atualidade.
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