Aquilo que considero como principal ponto negativo de “Nosso Lar” (2010), provavelmente para seus produtores e grande parte de seu público seja uma virtude da obra: trata-se de uma pura peça de propaganda da doutrina espírita. Na história do cinema, há casos emblemáticos desse tipo de produção que acabaram se tornando clássicos, mas pelos seus méritos artísticos, e não pelo conteúdo de sua mensagem – o exemplo mais notório é a obra-prima “O Triunfo da Vontade” (1935), documentário de exaltação dos valores nazistas dirigido por Leni Riefenstahl. Mesmo veiculando um repugnante conteúdo moral e social, é inegável que a cineasta alemã arquitetou uma narrativa dinâmica de imagens esplendorosas de desfiles, paradas, discursos e multidões. Em “Nosso Lar”, a elaboração visual é asséptica e fria. Basicamente, é um filme sem alma sobre espiritismo. O diretor Wagner Assis não soube aproveitar a milionária infra-estrutura de efeitos especiais que tinha a sua disposição. Sua encenação é frouxa e as trucagens resvalam apenas no competente. A caracterização do limbo, por exemplo, é patética pelo enfoque teatral e mambembe (Zé Mojica Marins, por exemplo, com muito menos recursos, criou um Inferno memorável em “Esta Noite Encarnarei em Seu Cadáver”). Os conflitos e situações do filme são expostos com didatismo, mas sem tensão e com banal dramaticidade. Os atores proferem seus diálogos em tom pouco natural, isso quando não caem no escancaradamente professoral. Nem mesmo a trilha sonora do consagrado compositor Philip Glass funciona a contento – é melodramática em excesso e inconveniente ao ser muito retumbante em sequências que exigiam uma música mais reflexiva.
E frustra também em “Nosso Lar” saber que a sua temática, por mais que se acredite ou não no espiritismo, possibilitaria voos criativos bem maiores em se tratando de uma história que se desenvolve no terreno do fantástico, o que acabou não se efetivando pela necessidade de seu realizador em focalizar uma “mensagem” de tons moralistas e edificantes, de acordo com a expectativa daqueles que defendem essa crença.
E frustra também em “Nosso Lar” saber que a sua temática, por mais que se acredite ou não no espiritismo, possibilitaria voos criativos bem maiores em se tratando de uma história que se desenvolve no terreno do fantástico, o que acabou não se efetivando pela necessidade de seu realizador em focalizar uma “mensagem” de tons moralistas e edificantes, de acordo com a expectativa daqueles que defendem essa crença.
2 comentários:
O Espiritismo não precisa e tão pouco tem interesse de fazer propaganda da sua doutrina. Não existe dízimo no movimento espírita, ou seja, não há uma indústria da fé em suas atividades. A proposta do Espiritismo é qualidade e não quantidade. Já são 4 milhões de pessoas que viram o filme. O ponto positivo é que agradou espíritas e não espíritas.
Se o Espiritismo precisa ou não de fazer propaganda da sua doutrina eu não sei. Só comentei aquilo que o filme faz transparecer na minha opinião. E aos meus olhos, pela forma como foi elaborado, ficou parecendo um grande vídeo institucional.
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