Por mais que “Um método perigoso” (2011) demonstrasse uma elegância formal e temática em sua concepção, era uma obra que causava certa decepção por parecer um David Cronenberg muito contido e menos autoral. Mesmo não estando no topo criativo do diretor canadense, “Cosmópolis” (2012) retoma essa veia mais visceral e ousada. Para começar, o fato de ser uma adaptação de um original literária não passa em branco: a narrativa do filme trafega entre o hiper-realismo e a anti-naturalismo. Tal linguagem acaba encontrando ressonância também em elementos teatrais – o fato de boa parte da trama se desenvolver dentro do espaço reduzido de uma limusine reflete tais influências, assim como o trecho final de pura verborragia. Esses elementos de meios culturais diversos, entretanto, não descaracterizam as particularidades estéticas do cinema de Cronerberg, mas sim o enriquecem.
“Cosmópolis” se insere de forma coerente dentro da
particular cinematografia do cineasta. Seu roteiro reflete muito dos conflitos
mais recorrentes da sociedade contemporânea (vazio existencial, ambição irrefreável,
relação sexualidade/consumismo), dentro de um contexto fortemente simbólico. As
situações e diálogos são elípticos, obscuros, mas aos poucos formam um conteúdo
perturbador e algo sensual. Essa abordagem icônica se estende até mesmo para o
trabalho do elenco – nas interpretações de Robert Pattinson, Juliette Binoche,
Samantha Morton e Paul Giamatti, há um tom que oscila entre o distanciamento
emocional, a ácida ironia e o cruel desespero.
Talvez a força motriz de “Cosmópolis” esteja numa tensão
contraditória – o elenco estelar (principalmente pela presença do galã Pattinson)
e a pinta de superprodução de grande estúdio são na verdade uma espécie de
cavalo de tróia que traz dentro de si uma sanha artística inquietante e
venenosa.
Um comentário:
É um filme que prova que Cronenberg sabe tirar leite de pedra, ou melhor dizendo, soube tirar uma boa interpretação vinda de Robert Pattinson.
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