Se em “Gainsbourg – O homem que amava as mulheres” (2010) o
diretor Joann Sfar já havia mostrado considerável talento cinematográfico, na
animação “O gato do rabino” (2010), adaptação para a tela grande de uma HQ de
sua autoria, ele confirma tal impressão. A história do bichano que engole um
papagaio e passar a falar tem um tom fabular, e envereda por direções ainda
mais complexas. O que Sfar propõe é uma narrativa plena de simbolismos e
ironia, em que referências históricas, filosóficas e religiosas pontuam o caráter
lúdico da trama. O traço de Sfar é fortemente estilizado, apresentando um
grafismo que oscila entre o sensual e o delirante, mostrando-se em sintonia com
o roteiro que traz uma gama de elementos insólitos: erotismo, violência,
sincretismo/conflito religioso (principalmente na aparente contradição entre
judaísmo e islamismo). Mais do que simplesmente contar uma história, o que Sfar
instiga é uma obra de acentuado cunho sensorial, em que a busca por soluções fáceis
morais e mesmo formais acaba sendo infrutífera. O que vale em “O gato do rabino”
é se deixar levar pelo inebriante conjunto de imagens e sons que brota
da tela.
Um comentário:
Se não for indicado ao Oscar de melhor longa de animação será injusto.
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