sexta-feira, julho 12, 2013

A memória que me contam, de Lucia Murat ***


Boa parte da filmografia da diretora Lucia Murat é dedicada à temática da ditadura militar. Nesse campo, o inventivo documentário “Uma longa viagem” (2011) é o seu ponto alto. Mesmo não atingindo o mesmo patamar artístico, “A memória que me contam” (2013) traz algumas inquietações envolventes. Assim como na citada obra anterior, combina-se uma abordagem histórica e política com um forte teor intimista, mostrando que os dois lados se entrelaçam de forma sutil e inextricável. A trama é ficcional, mas traz vários elementos biográficos da vida de Murat, e revela uma visão particular da diretora sobre os anos de chumbo e suas consequências. Ao mesmo tempo que expõe traumas, questionamentos e contradições daqueles que viveram intensamente aquele período de repressão e luta, a cineasta se permite fazer uma espécie de comentário pessoal sobre a atual conjuntura, principalmente no campo comportamental, em que as liberdades sociais e até mesmo sexuais seriam a continuação natural dos combates ideológicos e armados dos anos 60 e 70. Nesse sentido, há uma forte simbologia no fato de que o jovem casal homossexual é composto por filhos de antigos perseguidos políticos. Para retratar esses sutis e particulares ideários, Murat utiliza uma narrativa de tons realistas, mas que por vezes fica impregnada de atmosferas oníricas ou até mesmo delirantes. Assim, concordando ou não com as teorias da diretora, é inegável que ela vem construindo em seus filmes uma coerência autoral expressiva.

2 comentários:

Marcelo Castro Moraes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marcelo Castro Moraes disse...

Por motivos pessoais, esse filme fez parte de um momento importante da minha vida recentemente.