A música da banda Dead Brothers é de difícil classificação.
Pode-se dizer que parte do revisionismo rocker dos Cramps e envereda pelo blues
e folk estilizados na linha Tom Waits, por uma certa ambientação jazzy e por
uma série de referências culturais étnicas, resultando numa identidade musical
genuína e fora dos padrões. Não à toa, faziam parte do cast do esquisitão selo Voodoo
Rhythm. M.A. Littler, que já havia trabalhado com os Brothers no documentário
sobre a Voodoo, resolveu fazer um registro sobre a trajetória da banda, o que
resultou em “The Dead Brothers – A morte não é o fim” (2006). O diretor alemão,
entretanto, não concebeu apenas um documentário de caráter meramente
informativo – seu enfoque busca muito mais o sensorial. Sua intenção foi
traduzir as particulares nuances das canções dos Brothers numa narrativa
misteriosa e repleta de simbologias. Quando o filme se concentra no aspecto
biográfico, também foge do habitual, muito pela própria natureza da banda.
Apesar dos Dead Brothers serem estabelecidos na Suíça, seus três integrantes
possuem origens diversas: um deles é descendente de armênios fugidos de seu país
de origem, outro é praticamente um peregrino neozelandês e há também um inglês
de origem indiana. Tal multiculturalidade se reflete na estranha arte dos
Brothers, mostrando-se também em sintonia com as obsessões temáticas e estéticas
do cinema de Littler. O filme se expande em belíssimos números musicais e em
divagações existenciais e memorialistas dos componentes dos Brothers,
estabelecendo uma relação cada vez mais intrínseca entre a vida de cada um
deles e a sua arte. Talvez o mais fascinante na abordagem de Littler é que ela
acentua ainda mais a aura de mistério e mitificação em torno da figura da
banda, como se ela fosse sempre capaz de guardar alguma espécie de segredo a
nos instigar.
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