É claro que numa produção que tem como temática os últimos
dias de reinado de Luís XVI e Maria Antonieta o cuidado com direção de arte,
reconstituição de época e figurino seria esmerado. Em “Adeus, minha rainha” (2011)
isso é evidente em cada fotograma. Mas o requinte visual não é a tônica
principal do filme. O que torna a obra do diretor Benoit Jacquot acima da média
no gênero filme de época é uma perturbadora atmosfera de decadência e
melancolia que impregna de forma constante a trama. Se a platéia sente encanto
visual pela suntuosidade dos palácios e pela beleza da rainha e das damas de
sua corte, além da aura de hedonismo proveniente de banquetes e jogos amorosos,
por outro lado também se angustia por aquele clima de uma época que está se
desintegrando de maneira inexorável. A extraordinária direção de fotografia
oferece a complementação pictórica exata para as intenções do filme, tanto nos
seus enquadramentos emulando quadros quanto na iluminação que privilegia um tom
sombrio entre o amarelo e o laranja. Quando a luz natural vez e outra
pontifica, é um alívio para o pesadelo sensorial no qual personagens (e público)
estão imersos. Talvez não seja a obra definitiva sobre o episódio histórico em
questão (é provável que essa honra caiba à obra-prima “Casanova e a revolução”,
de Ettore Scola), mas “Adeus, minha rainha” é um dos retratos cinematográficos
mais contundentes a tratar do assunto.
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