quinta-feira, julho 18, 2013

Os amantes passageiros, de Pedro Almodóvar ***1/2


Se “A pele que habito” (2011) apresentava um rigor estético admirável, em “Os amantes passageiros” (2013) o diretor espanhol Pedro Almodóvar parece ter desejado dar uma relaxada. Afinal, como narrativa trata-se de uma obra de caráter irregular (toda aquela seqüência, por exemplo, que se passa em terra com as amantes de um galã cinematográfico poderia ter sido limada na boa). O fato, entretanto, é que Almodóvar tem muita manha para filmar e quando acerta a mão na sua veia cômica o negócio pega fogo. Seu domínio de encenação é precioso: ao mesmo tempo que tudo parece muito alucinado na velocidade de diálogos maliciosos e números de puro humor físico que beira o pastelão, ele não perde o rumo na condução da trama e de seus atores. Ele retoma aquela veia irônica debochada típica dos seus primeiros filmes, de comicidade picaresca, mas com uma sofisticação visual que naqueles primórdios ele ainda não dominava. Ou seja, os detratores habituais até podem continuar não gostando, mas é inegável que a sua marca autoral está sempre ali, indelével. No mais, os momentos em que pretende fazer uma sátira política em relação ao atual momento político e econômico da Espanha podem soar por vezes ingênuo, mas a sua verdadeira e efetiva transgressão temática está na naturalidade e paixão com que “Os amantes passageiros” retrata os romances gays envolvendo comissários e pilotos de um vôo em colapso: o espírito brincalhão e vigoroso de tais cenas reforça o espírito libertário latente na cinematografia de Almodóvar.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Embora seja um filme menor do cineasta é delicioso de assisti-lo. Recomendo