Se “A pele que habito” (2011) apresentava um rigor estético
admirável, em “Os amantes passageiros” (2013) o diretor espanhol Pedro Almodóvar
parece ter desejado dar uma relaxada. Afinal, como narrativa trata-se de uma
obra de caráter irregular (toda aquela seqüência, por exemplo, que se passa em
terra com as amantes de um galã cinematográfico poderia ter sido limada na
boa). O fato, entretanto, é que Almodóvar tem muita manha para filmar e quando
acerta a mão na sua veia cômica o negócio pega fogo. Seu domínio de encenação é
precioso: ao mesmo tempo que tudo parece muito alucinado na velocidade de diálogos
maliciosos e números de puro humor físico que beira o pastelão, ele não perde o
rumo na condução da trama e de seus atores. Ele retoma aquela veia irônica
debochada típica dos seus primeiros filmes, de comicidade picaresca, mas com
uma sofisticação visual que naqueles primórdios ele ainda não dominava. Ou
seja, os detratores habituais até podem continuar não gostando, mas é inegável
que a sua marca autoral está sempre ali, indelével. No mais, os momentos em que
pretende fazer uma sátira política em relação ao atual momento político e econômico
da Espanha podem soar por vezes ingênuo, mas a sua verdadeira e efetiva
transgressão temática está na naturalidade e paixão com que “Os amantes
passageiros” retrata os romances gays envolvendo comissários e pilotos de um vôo
em colapso: o espírito brincalhão e vigoroso de tais cenas reforça o espírito
libertário latente na cinematografia de Almodóvar.
Um comentário:
Embora seja um filme menor do cineasta é delicioso de assisti-lo. Recomendo
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