Na concepção artística de “O reino da sobrevivência” (2011),
não é apenas a sua temática que se refere à política. Na realidade, os próprios
atos de filmar e editar acabam ganhando um status de ato político. O diretor
alemão M.A. Littler faz do seu documentário um espelho de suas convicções e
inquietações pessoais sobre o mundo que o cerca. Usa a limitação de orçamento
como uma declaração de intenções, fazendo com que eventuais imperfeições se
mostrem como essenciais para revelar a verdadeira natureza da sua obra. O filme
não procura respostas fáceis para os questionamentos propostos. A diversidade
de depoimentos revela como ponto comum uma insatisfação com os atuais
mecanismos sociais, econômicos e políticos do mundo ocidental, mas também
evidencia a dificuldade de encontrar denominadores em comum. De certa forma, é
como se todas as visões propostas por seus protagonistas
pudessem representar algum possível caminho a se seguir, o que só ressalta as várias
complexidades que se apresentam na sociedade contemporânea. A estética
apresentada por Littler para formatar tais discussões é rústica e contundente,
mas também traz um certo grau de inusitado ao se relacionar com o gênero road
movie. O narrador percorre os Estados Unidos em busca de seus personagens, o
que tem uma carga simbólica muito forte: os EUA representam o berço de algumas
das principais manifestações culturais das últimas décadas (rock, cinema,
quadrinhos, comportamento, vestuário), mas também trazem no seu bojo alguns dos
principais males do capitalismo selvagem. Essa contradição parece ser força
determinante também de “O reino da sobrevivência”, no jogo de fascínio e repulsa
que Littler estabelece ao expor a gama de experiências e reflexões de seus
entrevistados.
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