quinta-feira, julho 04, 2013

Jards, de Eryk Rocha ***1/2


Jards Macalé já havia sido protagonista de documentário, “Jards Macalé: Um morcego na porta principal” (2008), obra que tinha um caráter mais convencional e informativo, focando-se numa narrativa biográfica. Já “Jards” (2013) busca uma abordagem mais ousada da figura do músico. Mais que isso ainda: o filme de Eryk Rocha se propõe a ser uma espécie de complemento audiovisual da personalíssima concepção musical de Macalé, em que a tradição e a modernidade se entrecruzam de forma brilhante. Na essência, o conceito do filme é a de ser uma obra de cunho sensorial. A direção de fotografia e a montagem buscam um registro sutil e silencioso, enfatizando mais o caráter taciturno e de ironia amarga do seu “personagem” principal. Há muita iluminação estourada, closes no rosto de Macalé, enfatizando os gestos e expressões faciais do músico na interpretação de alguns de suas principais composições ou nas imagens de seu cotidiano. Mesmo quando imagens de arquivo aparecem, elas são apresentadas sem narração ou explicações, emulando algo como se fossem memórias aleatórias de Macalé. Esse desprendimento em não precisar um contexto histórico entra em sintonia com a própria persona e arte fora do tempo e do espaço de Macalé. Rocha não se prende a uma objetividade óbvia, sendo que sua visão é subjetivista no olhar de fascinação e um tanto misterioso sobre a figura do músico, o que também pode se explicar pelo fato do pai de cineasta, Glauber Rocha, ter tido várias parcerias artísticas com Macalé. A junção de todas essas nuances constituem uma das produções documentais mais instigantes a retratarem um músico brasileiro.

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