Jards Macalé já havia sido protagonista
de documentário, “Jards Macalé: Um morcego na porta principal” (2008), obra que
tinha um caráter mais convencional e informativo, focando-se numa narrativa
biográfica. Já “Jards” (2013) busca uma abordagem mais ousada da figura do
músico. Mais que isso ainda: o filme de Eryk Rocha se propõe a ser uma espécie
de complemento audiovisual da personalíssima concepção musical de Macalé, em
que a tradição e a modernidade se entrecruzam de forma brilhante. Na essência,
o conceito do filme é a de ser uma obra de cunho sensorial. A direção de
fotografia e a montagem buscam um registro sutil e silencioso, enfatizando mais
o caráter taciturno e de ironia amarga do seu “personagem” principal. Há muita
iluminação estourada, closes no rosto de Macalé, enfatizando os gestos e
expressões faciais do músico na interpretação de alguns de suas principais
composições ou nas imagens de seu cotidiano. Mesmo quando imagens de arquivo
aparecem, elas são apresentadas sem narração ou explicações, emulando algo como
se fossem memórias aleatórias de Macalé. Esse desprendimento em não precisar um
contexto histórico entra em sintonia com a própria persona e arte fora do tempo
e do espaço de Macalé. Rocha não se prende a uma objetividade óbvia, sendo que
sua visão é subjetivista no olhar de fascinação e um tanto misterioso sobre a
figura do músico, o que também pode se explicar pelo fato do pai de cineasta,
Glauber Rocha, ter tido várias parcerias artísticas com Macalé. A junção de
todas essas nuances constituem uma das produções documentais mais instigantes a
retratarem um músico brasileiro.
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