Assim como os Irmãos Taviani em “César deve morrer” (2012),
Marco Bellocchio é mais um veterano diretor italiano que vem a beber na fonte
do neo-realismo ao realizar “Irmãs jamais” (2010). A forma com que ele
desenvolve tal influência, entretanto, é diversa daquela dos Taviani. Ao longo
de aproximadamente uma década, ele filmou pequenos trechos dramáticos, usando
como atores alguns familiares e amadores, retratando episódios marcantes na
trajetória de uma família interiorana de um pequeno vilarejo. Por vezes, tais
episódios parecem ter poucas ligações entre eles, em outros momentos apresentam
uma ligação íntima. Juntando todos formam um conjunto fascinante e de unidade
memorável. O naturalismo da encenação executada por Bellocchio é desconcertante
na sua simplicidade e fluência. Para reforçar o tom “doméstico” de sua
narrativa, o cineasta utiliza uma fotografia que evoca uma película antiga, de
cores fortes – por mais que situe a trama pelos anos de sua realização, tem-se
a impressão de uma obra fora do tempo e do espaço, em que a aparente
casualidade das situações esconde um dramatismo sutil que por vezes também
aflora de forma impactante. O lirismo visual melancólico e simbólico da conclusão
de “Irmãs jamais” corrobora essa impressão de uma obra atípica e, por isso
mesmo, inesquecível.
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