sexta-feira, julho 05, 2013

O lugar onde tudo termina, de Derek Cianfrance ****


A estrutura narrativa de “O lugar onde tudo termina” (2013) é a de um melodrama clássico, sendo que o roteiro se permite a algumas vezes a forçar a barra nas coincidências da vida... O grande detalhe diferenciador do filme, entretanto, é a direção vigorosa de Derek Cianfrance, de um virtuosismo cinematográfico excepcional. A antológica abertura do filme já é um excelente cartão de visita – num longo plano-sequência, o motoqueiro Luke (Ryan Gosling) se prepara meticulosamente no seu camarim, sai andando, chega no circo, monta em sua moto e entra direto num globo da morte. A partir daí, Cianfrance mantém um equilíbrio notável entre um pesado drama de atmosfera sombria e cenas de ação de impacto visual sensacional. Nesse último caso, ainda que a abordagem seja realista, a encenação é frenética e detalhista, principalmente nos momentos que envolvem Luke pilotando sua motocicleta. Apesar desse gosto pela ação, Cianfrance também se mostra hábil em desenvolver os complexos relacionamentos humanos da trama (a exemplo do que ele já tinha feito no belo “Namorados para sempre”, contundente obra que dissecava cruelmente um relacionamento amoroso). Outro detalhe importante na força narrativa de “O lugar onde tudo termina” está na sua trilha sonora, repleta de temas de estranhos climas opressivos compostas pelo roqueiro esquisitão Mike Patton (vocalista do Fantomas e do Faith No More), além da presença de canções na mesma linha bizarra – a seqüência, aliás, em que Luke chega nas desertas ruas de uma cidade do interior para assaltar pela primeira vez um banco, embalada por “Che”, uma das canções mais delirantes do Suicide, é daquelas coisas que vão se grudar por um bom tempo no imaginário cinematográfico. E não há como deixar de mencionar o trabalho do elenco, com absoluto destaque para Ryan Gosling, que compõe com sensíveis nuances uma figura carismática e trágica inesquecível.

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