A estrutura narrativa de “O lugar onde tudo termina” (2013) é
a de um melodrama clássico, sendo que o roteiro se permite a algumas vezes a
forçar a barra nas coincidências da vida... O grande detalhe diferenciador do
filme, entretanto, é a direção vigorosa de Derek Cianfrance, de um virtuosismo
cinematográfico excepcional. A antológica abertura do filme já é um excelente
cartão de visita – num longo plano-sequência, o motoqueiro Luke (Ryan Gosling)
se prepara meticulosamente no seu camarim, sai andando, chega no circo, monta
em sua moto e entra direto num globo da morte. A partir daí, Cianfrance mantém
um equilíbrio notável entre um pesado drama de atmosfera sombria e cenas de ação
de impacto visual sensacional. Nesse último caso, ainda que a abordagem seja
realista, a encenação é frenética e detalhista, principalmente nos momentos que
envolvem Luke pilotando sua motocicleta.
Apesar desse gosto pela ação, Cianfrance também se mostra hábil em desenvolver
os complexos relacionamentos humanos da trama (a exemplo do que ele já tinha
feito no belo “Namorados para sempre”, contundente obra que dissecava
cruelmente um relacionamento amoroso). Outro detalhe importante na força
narrativa de “O lugar onde tudo termina” está na sua trilha sonora, repleta de
temas de estranhos climas opressivos compostas pelo roqueiro esquisitão Mike
Patton (vocalista do Fantomas e do Faith No More), além da presença de canções
na mesma linha bizarra – a seqüência, aliás, em que Luke chega nas desertas
ruas de uma cidade do interior para assaltar pela primeira vez um banco, embalada
por “Che”, uma das canções mais delirantes do Suicide, é daquelas coisas que vão
se grudar por um bom tempo no imaginário cinematográfico. E não há como deixar
de mencionar o trabalho do elenco, com absoluto destaque para Ryan Gosling, que
compõe com sensíveis nuances uma figura carismática e trágica inesquecível.
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