A concepção formal do diretor Frederick Wiseman no documentário
“Crazy Horse” (2011) é rigorosa – ao focar no cotidiano do famoso cabaret
parisiense, o cineasta não facilita as coisas. Seu registro é objetivo, não se
permitindo a narrações explicativas ou a uma trama bem definida. Ele vai
focando fatos diversos, passando por ensaios, conversas, gravações, entrevistas
com candidatas a dançarinas, atos administrativos. Todos esses momentos, aos
poucos, vão compondo um mosaico fascinante. Wiseman não se furta de mostrar o
resultado de todo esse processo criativo, filmando com notáveis sensibilidade e
paixão as apresentações de números destacados de striptease. O que era projetado
para ser uma coreografia a ser apresentada num palco parece ganhar insuspeitos
contornos cinematográficos – faz até pensar que foram pensadas inicialmente
para o cinema. E talvez esteja aí o grande mote criativo de Wiseman em “Crazy
Horse” – sua visão tanto tem uma conotação de
distanciamento emocional quanto por vezes se trai e demonstra fascinação com o
esfuziante erotismo das danças e dos belos corpos das dançarinas.
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