Os primeiros 10 minutos de “Flores raras” (2013) são
claudicantes: a encenação parece um tanto forçada, como se o diretor Bruno
Barreto não se sentisse à vontade para filmar nos Estados Unidos. Quando a
trama passa a se desenvolver no Brasil, entretanto, o filme adquire força e
desenvoltura surpreendentes. Mesmo com uma narrativa convencional, o filme
cativa pela maturidade na forma com que o roteiro enfoca as relações humanas,
contando ainda com uma visão política e histórica que foge das obviedades e dos
reducionismos simplistas. O estilo de filmar de Barreto é simples e elegante,
captando sutis nuances na dinâmica entre os personagens. Lota
(Glória Pires), por exemplo, tem uma noção bastante liberal sobre as cirandas
amorosas em que se envolve, mas ao mesmo tempo é fortemente reacionária e
oportunista em suas opiniões e escolhas políticas. Já sua amante, a poeta
Elisabeth Bishop (Miranda Otto), mostra uma sensibilidade à flor da pele na sua
arte enquanto age de forma seca em relação às pessoas que a cercam. Assim, por
mais que a história tenha os seus momentos de romantismo, o que prevalece é um
tom melancólico e pouco idealizado do amor romântico, o que dá uma dimensão
humana bastante contundente para “Flores raras”. Colaboram também para o
impacto considerável do filme as atuações da dupla de protagonista:
enquanto Glória Pires privilegia um registro visceral, Miranda Otto adota
uma contenção dramática admirável – as diferenças nas interpretações garantem a
tensão necessária de forma mais que convincente.
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