segunda-feira, setembro 30, 2013

Flores raras, de Bruno Barreto ***


Os primeiros 10 minutos de “Flores raras” (2013) são claudicantes: a encenação parece um tanto forçada, como se o diretor Bruno Barreto não se sentisse à vontade para filmar nos Estados Unidos. Quando a trama passa a se desenvolver no Brasil, entretanto, o filme adquire força e desenvoltura surpreendentes. Mesmo com uma narrativa convencional, o filme cativa pela maturidade na forma com que o roteiro enfoca as relações humanas, contando ainda com uma visão política e histórica que foge das obviedades e dos reducionismos simplistas. O estilo de filmar de Barreto é simples e elegante, captando sutis nuances na dinâmica entre os personagens. Lota (Glória Pires), por exemplo, tem uma noção bastante liberal sobre as cirandas amorosas em que se envolve, mas ao mesmo tempo é fortemente reacionária e oportunista em suas opiniões e escolhas políticas. Já sua amante, a poeta Elisabeth Bishop (Miranda Otto), mostra uma sensibilidade à flor da pele na sua arte enquanto age de forma seca em relação às pessoas que a cercam. Assim, por mais que a história tenha os seus momentos de romantismo, o que prevalece é um tom melancólico e pouco idealizado do amor romântico, o que dá uma dimensão humana bastante contundente para “Flores raras”. Colaboram também para o impacto considerável do filme as atuações da dupla de protagonista: enquanto Glória Pires privilegia um registro visceral, Miranda Otto adota uma contenção dramática admirável – as diferenças nas interpretações garantem a tensão necessária de forma mais que convincente.

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