É claro que se pode dizer que “Repare bem” (2013) não traz
maiores novidades para o gênero “documentário sobre a ditadura militar no
Brasil”. Mas é provável que isso nem fosse a intenção da diretora portuguesa
Maria de Medeiros ao realizar esse filme. Afinal, ela foi convidada a dirigir
tal obra por uma instituição ligada a pesquisa e investigação sobre o período
histórico em questão. O resultado final, entretanto, está muito longe de ser um
mero trabalho institucional. A cineasta soube aproveitar bem a contundente matéria
prima que tinha em mãos e concebeu um filme vigoroso e de forte teor emocional.
Medeiros concentrou sua narrativa nos depoimentos da protagonista Denise
Crispim, que viveu na clandestinidade nos tempos de chumbo e teve o marido Eduardo
“Bacuri”, também guerrilheiro, preso, torturado e morto. Seus relatos são
detalhados e vívidos, compondo um amplo panorama que mistura sem cerimônia o
intimismo de seu drama pessoal com um retrato brutal do cenário político e social
do Brasil dos anos 60 e 70, além de evidenciar que as sequelas e traumas
daquele período atribulado ainda são feridas abertas no imaginário daqueles que
vivenciaram na carne as agruras da repressão.
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