É difícil dizer exatamente sobre o que se trata o documentário
“Quarto 237” (2012). Pode-se considerar que o diretor Rodney Ascher quis
abarcar uma série de obsessões temáticas e estéticas – a capacidade do filme “O
iluminado” (1980) despertar as mais esquisitas e absurdas teorias, a
genialidade de Stanley Kubrick, a cinefilia, o poder da edição cinematográfica.
O impressionante é que Ascher juntou tudo isso com coerência formal
impressionante, tendo por resultado final uma obra que traz uma lógica
singular. O documentarista não tem a pretensão de fazer com que o espectador
acredite nas teorias meio amalucadas dos fãs do horror de Kubrick (no mais das
vezes, tratam-se de algumas explicações estapafúrdias para alguns erros de
continuidade ou mesmo de verossimilhança da produção em questão). Para Ascher, parece
mais divertido visualizar as ideias expostas pelos entrevistados. E é nesse
ponto que vem um dos aspectos mais fascinantes de “Quarto 237”: a brilhante e
minuciosa montagem que recorta com precisão cenas de “O iluminado”, outras películas
de Kubrick, imagens de arquivo em geral, alguns gráficos digitais. Ascher não
mostra sequer uma cena filmada por ele. Seu filme é um produto exclusivo da sua
imaginação e da sala de montagem. Talvez seja uma das manifestações fílmicas mais
contundentes sobre a importância primordial da edição numa obra cinematográfica.
Tal concepção pode ser discutível para alguns, mas é inegável a sedução
sensorial que a narrativa elaborada por Ascher proporciona.
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