A obsessão na junção entre cinema e literatura de Jacques
Rivette atinge um alto grau de excelência artística em “Não toque no machado”
(2007). O cineasta francês preserva da obra original de Balzac aquilo que ela
tem de essencial: os diálogos que fluem entre o solene e o poético, a
dramaticidade que navega entre o sombrio e a ironia sutil. Nesse encruzilhada
de mídias, Rivette elabora uma narrativa realista de cunho muito particular –
as situações focadas no roteiro, as relações humanas, tudo sugere uma abordagem
que foge do idealismo romântico, mas ao mesmo tempo parece que se assiste a uma
obra cujo naturalismo pertence a uma outra dimensão. Talvez seja um plano de
realidade que se vincule ao universo resultante das fusões das concepções
formais e temáticas próprias tanto de Balzac quanto de Rivette. Até o trabalho
de direção de arte e figurino mais se relacionam a uma noção de imaginário de
uma época do que a um rigor histórico. A atuação do casal protagonista
está em sintonia com o ideário estético da obra, sendo que tanto Jeanne Balibar
como Guilaume Depardieu trazem caracterizações extraordinária na aura de
melancolia e alienação que imprimem em seus respectivos papéis. Dizem que
Rivette anda bem doente e que em razão disso dificilmente voltará a filmar. Se
isso realmente se concretizar, é inegável que “Não toque no machado” seria uma
contundente síntese dos preceitos artísticos que sempre nortearam a sua
filmografia.
Um comentário:
Assisti quando houve uma mostra especial do diretor aqui em Porto Alegre. Recomendo.
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