Uma obra como “O menino e o mundo” (2013) é uma verdadeira “avis
rara” para o cinema brasileiro – um longa-metragem de animação bastante
distante dos padrões comerciais do gênero, tanto pela sua estética quanto pelo
seu conteúdo. O traço proposto nesse filme do diretor Alê Abreu foge da escola
digital/realista de Pixar, Disney e afins, investindo num grafismo de forte tom
impressionista, simulando uma espécie de rabiscos infantis. Para espectadores não
habituados com tal estilo, tal composição visual pode parecer um tanto quanto
tosca, mas esse aspecto de mal acabado é intencional, estando em sintonia com o
caráter contestatório da temática. Aliado a um trabalho de sonoplastia bastante
requintado e original na sua conjunção de ruídos e música, esse formalismo
entre o rústico e o lírico por vezes provoca um efeito sensorial hipnótico.
Essa particular estilização acaba encontrando ressonância no roteiro da obra,
que parece funcionar como uma alegoria crítica da sociedade contemporânea,
repleta de simbolismos que aludem ao massacre cultural que a economia
capitalista impõe aos indivíduos. E é aí que “O menino e o mundo” chega numa
encruzilhada existencial – se em algumas oportunidades a sua estética “suja” e o
seu discurso político, filosófico e social podem parecer sombrio e até mesmo
complexo para a platéia infanto-juvenil, por outro lado sua estética crua soa árida
e cansativa, além da temática didática em termos sociológicos, pode fazer a
animação parecer um tanto ingênua para o público adulto. Mesmo dentro dessa
indefinição de seu direcionamento, “O menino e o mundo” não deixa de ser uma
contundente curiosidade dentro do panorama do cinema nacional contemporâneo.
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