A temática do documentário “Eu respiro” (2013) pode parecer
algo na linha lição de vida, de superação ou coisa que o valha, mas na
realidade seu alcance é bem mais amplo. A partir da história de Neil Platt, um
dinamarquês de 34 anos que se descobre com uma doença rara que faz com que em
questão de meses perca progressivamente os movimentos do corpo até a sua morte,
a produção traça uma espécie de diário da degeneração física do protagonista
e o seu processo de aceitação do fim inevitável. O recurso narrativo básico
utilizado pelos diretores Emma Davie e Morag McKinnon é simples mas altamente
eficaz no impacto que causa: enquanto se mostra a difícil rotina diária de
Platt e família convivendo com a doença, são contrapostas fotos e vídeos dele
antes do surgimento da patologia, o que ressalta bastante o aspecto da
fragilidade da vida – o contraste das imagens de um Neil saudável e vigoroso
com o seu então cotidiano de privações é brutal e tocante. Com sutileza, na
narrativa são inseridos dados biográficos que oferecem uma dimensão simbólica
ainda mais dramática para a situação de Platt. Sua doença é hereditária, sendo
que o pai dele havia morrido do mesmo mal. Assim, há o questionamento pessoal
se havia a possibilidade dele ter tomado alguma providência anterior para
evitar o que aconteceu a ele. Por fim, Platt admite que o filme tem o fim de
alerta para o seu filho, ainda um bebê de colo, para que tome providências no
sentido de que não sofra do mesmo mal. Por mais que tal intenção tenha cunho
particular, a forma com que “Eu respiro” expõe o drama de seu protagonista
revela uma abordagem universal fascinante.
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