Em termos de cinema brasileiro atual, Pernambuco é quem tem
dado as cartas, pelo menos nos caminhos artísticos. E para ficarmos nessa praia
nas comparações, pode-se dizer que “Tatuagem” (2013) não tem a mesma exuberância
formal de “A febre do rato” (2011) e nem a concisão narrativa de “O som ao
redor” (2012). Há certos momentos em que a obra do diretor Hilton Lacerda soa
um tanto auto-indulgente pelo tom de panfletarismo gay. Mesmo assim, é uma obra
que se coloca muito acima da média, principalmente pelo tom visceral da direção
de Lacerda. O registro audiovisual do cineasta é um notável misto entre crueza
e paixão, tanto nas seqüências das apresentações da trupe de artistas marginais
quanto nas cenas de sexo. Além disso, Lacerda deixa evidente a sua boa mão de
roteirista experiente, sendo que seus diálogos são marcados tanto pelo
humanismo do seu teor naturalista quanto pela poesia derivada de um romantismo
a flor da pele. Na realidade, é essa ambigüidade que se configura como um dos
grandes pontos de fascínio do filme – geralmente as cenas carregam em
sentimentos dúbios (beleza/feiúra, atração/repulsa) que ora perturbam, ora
encantam. Para que a abordagem estética/temática de “Tatuagem” atinja seus
pontos máximos de ebulição, fundamentais se mostram dois elementos. Primeiro o
elenco, em atuações plenas de nuances expressivas, com absoluto destaque para o
trio protagonista (Irandhir Santos, Rodrigo
Garcia e Jesuíta Barbora). E segundo a extraordinária trilha sonora de DJ
Dolores, num trabalho fenomenal que combina eletrônica, ritmos regionais e até
uma esdrúxula polca (como não sair da memória a diabólica “Tem cu”?).
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