terça-feira, junho 09, 2015

Bem perto de Buenos Aires, de Benjamin Naishtat ***


Tanto na sua questão estética quanto na temática, a produção argentina “Bem perto de Buenos Aires” (2014) obedece a uma concepção artística rigorosa. O diretor Benjamin Naishtat constrói uma narrativa seca e lenta, valorizando longos planos fixos, silêncios, diálogos econômicos, encenação precisa e quase ausência de trilha sonora musical. Por meio dessa austeridade formal, a obra evidencia uma atmosfera claustofóbica de tensão, além de uma simbologia sutil na sua visão de ironia ácida sobre a desigualdade social na sociedade argentina (e, por tabela, na própria sociedade ocidental). Naishtat revela um senso de humor perverso no jogo de temores e expectativas que ronda boa parte dos meandros da trama. O roteiro sempre lida com uma ameaça de explosão de violência e revolta que na realidade nunca se concretiza de forma plena. Dentro dessa ambientação em que tudo é sugerido ou presumido, o filme ressalta tanto a frustração desfocada das camadas populares quanto a paranóia da classe média alta. Nesse último caso, tal sentimento parece refletir uma sensação de culpa mal digerida diante de uma sociedade repleta de injustiças e preconceitos. Por mais que se acuse que tal discurso possa ser manjado ou “esquerdista”, é inegável, entretanto, que o subtexto político de “Bem perto de Buenos Aires” se desenvolve e consolide da maneira contundente e sofisticada.

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