Recentemente li uma resenha escrita por Eron Fagundes, crítico
de cinema e meu amigo, onde ele comentava sobre o uso do termo “didático” em
textos sobre filmes. Para ele, havia uma utilização distorcida da palavra em
boa parte dos comentários que ele lia, no sentido de que se uma obra fosse didática
isso seria um demérito para ela, pois significaria que se tratava de algo
enfadonho, aborrecido. Para o Eron, pelo que entendi do seu comentário, essa
percepção negativa da palavra “didático” é reflexo dos tempos atuais, em que a
falta de humildade intelectual faz com que a noção de que possamos aprender
algo com uma obra cultural seja encarada como um equívoco. Apreciei essa linha
de raciocínio do Eron, principalmente pelo forte caráter humanista de seu conteúdo.
Dito isso, posso afirmar de forma convicta que “Um sonho intenso” (2013) é uma
obra de forte caráter didático. Sua pretensão é fazer um retrato da trajetória
econômica do Brasil da Era Vargas até os dias de hoje. Para isso, o diretor José
Mariani se vale de comentários profundos e detalhistas de alguns economistas e
historiadores com bastante conhecimento de causa, sem que, contudo, se perca a
clareza para os leigos no assunto economia. É claro que dá para dizer que a
narrativa é um grande resumão da temática abordada, mas Mariani consegue dentro
dessa síntese extrair os pontos essenciais para que o espectador saia com uma
visão razoavelmente abrangente sobre o assunto. Além disso, o acabamento formal
de “Um sonho intenso” oferece tensão e dinâmica narrativa necessárias para que
a produção transcenda o interesse restrito de acadêmicos e afins. E, por fim,
seu didatismo é um ponto fortíssimo por oferecer uma perspectiva mais ampla e
honesta do que as análises rasteiras que a grande mídia e o senso comum obtuso
dos facebooks da vida costumam proferir sobre a conjuntura econômica
brasileira. Pois, como diria aquela máxima, “para todo problema complexo há uma
solução simples, rápida e errada”.
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