A ideia principal que paira em “Divertida mente” (2015) é
criativa e interessante: a de que a central de emoções e pensamentos de um ser
humano se dividiria internamente em uma espécie de organização burocrática. De
certa forma, tal premissa até faz lembrar algo parecido que havia sido feito
dentro do universo dos jogos eletrônicos no extraordinário “Detona Ralph”
(2012). É de se considerar ainda que elementos da trama dessa produção mais
recente da Pixar remetem a conceitos psicanalíticos e comportamentais de caráter
complexo e até mesmo ousado. Ou seja, talvez seja uma das obras da Pixar de
maior pretensão artística ao tentar combinar tais preceitos temáticos dentro de
um formato típico de uma animação comercial direcionada ao público infantil. O
grande problema de “Divertida mente”, entretanto, é que a junção de todas essas
premissas e conceitos não resulta em uma narrativa orgânica e fluida. A
estrutura do melhor que já se fez no gênero dos desenhos animados destinados ao
público infanto-juvenil parte de uma equação simples e eficiente – a partir de
uma narrativa que configura pela aventura e o drama tradicionais, infiltra-se
com sutileza um subtexto de feições educativas e/ou questionadoras. Permite-se
ao seu público um espaço para a reflexão sobre o conteúdo daquilo que se está
vendo. Em “Divertida mente”, não há esse espaço para sutileza, pois o próprio
roteiro é puro subtexto, em que todo os mecanismos existenciais e artísticos são
jogados na cara da plateia sem a menor discrição. É quase como se o filme fosse
uma obra institucional para ser usado para educadores e psicanalistas. É claro
que em termos visuais há algumas boas sacadas estéticas, além da história
trazer figuras e situações intrigantes (o amigo imaginário perdido, o limbo das
lembranças esquecidas). Mas acaba sendo pouco diante daquilo que “Divertida
mente” efetivamente poderia render.
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