Durante muitas décadas, foi prática recorrente e até aceitável
em várias produções norte-americanas o fato de que em tramas que se desenvolvem
em outros países os personagens falassem inglês perfeitamente, ainda que com um
sotaque picareta. Afinal, as contingências culturais e comerciais determinavam
a necessidade de uma língua “universal” que fosse acessível para todos. Dito
isso, confesso que depois de assistir a “Bastardos inglórios” (2009) esse tipo
de recurso me pareceu datado demais. No extraordinário filme de Tarantino, cada
personagem falava o seu idioma nativo (inglês, alemão, francês, italiano), de
acordo com a situação específica do roteiro. Esse nível de realismo fez com a
caracterização de personagens e situações ficassem ainda mais críveis e
impactantes. Dessa forma, os diálogos em inglês com sotaque simulando russo da
trama que se passa na União Soviética da época do stalinismo de “Crimes ocultos”
(2015) acaba soando bem antiquado. Mas a impressão de algo mofado não se
restringe a essa questão de linguagem. Por mais que o filme conte com um elenco
de nomes expressivos e o diretor Daniel Espinosa consiga por vezes deixar a
narrativa envolvente o suficiente para que não se perceba a duração excessiva
de duas horas e meia da produção, a verdade é que o filme parece novelesco em
demasia nas viradas melodramáticas de seu roteiro, bem como é superficial tanto
na caracterização de personagens e nas resoluções de sua trama. Ainda que a
pretensão seja a de uma contundente crítica ao modelo burocrático estatal
comunista, falta estofo e profundidade para que a obra transcenda o previsível
e competente thriller de suspense.
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