terça-feira, junho 16, 2015

Quase samba, de Ricardo Targino *1/2


A boa trilha sonora de “Quase samba” (2012) é uma espécie de reflexo da proposta artística do filme – composta basicamente por temas incidentais criados por Pupilo e canções de Céu, Otto e Arnaldo Antunes, traz aquela já típica combinação de elementos populares/bregas e toques vanguardistas/experimentais. E a produção dirigida por Ricardo Targino se desenvolve justamente nessa fronteira entre o tradicional e a esquisitice estética/poética. É possível perceber em alguns momentos as intenções ambiciosas de Targino na sua conjugação de crítica social e comportamental e referências culturais (nesse último caso, principalmente na ênfase que se dá ao lado musical do filme). O problema da obra é que as suas pretensas ousadias formais e temáticas não conseguem se efetivar em uma narrativa equilibrada. Pelo contrário: a impressão constante é de que se está diante de um mosaico fragmentado e frouxo, em que as cenas se sucedem em um certo tom aleatório, como se “Quase samba” fosse um conjunto mal amarrado de números musicais e trechos difusos de encenação beirando o mambembe. As próprias atuações do elenco são marcadas por um involuntário tom caricatural. É provável que a produção tivesse um impacto sensorial maior se Targino tivesse optado definitivamente por uma abordagem antinaturalista. Do jeito que ficou, dá uma impressão de indecisão criativa que torna “Quase samba” uma experiência cinematográfica cansativa e pouco memorável.

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