Há um momento bastante revelador em “Nick Cave – 20.000 dias
na Terra” (2014) tanto sobre o seu protagonista quanto sobre a própria natureza
do filme em questão: quando a cantora Kyle Minogue coloca que leu uma biografia
sobre Cave para conhecer mais sobre ele, o cantor afirma que aquele livro está
muito longe da sua verdade. Para essa produção, o essencial não está em
decifrar todas as “verdades” relativas ao seu protagonista. Não há a preocupação
em fazer uma tradicional, literal e cronológica exposição de fatos sobre a vida
de Cave. O que interessa efetivamente é criar uma atmosfera existencial e artística
semelhante às canções e escritos do artista. Nesse sentido, a obra dos diretores
Iain Forsyth e Jane Pollard é muito bem sucedida, afastando-se na maioria das
vezes dos clichês característicos dos documentários biográficos. Na verdade,
nem daria para classificar o filme como um documentário propriamente dito. Isso
porque a linha narrativa apenas se apropria de alguns elementos factuais para
encená-los de acordo com a criatividade dos cineastas e do próprio Cave. Não é
a espontaneidade ou o realismo que estão em pauta, mas sim os meios mais líricos
que possam expressar as obsessões estéticas e a particular visão de mundo do músico
e compositor. Essa forma de expressão vai se manifestando de várias formas:
flashes do cotidiano, entrevistas encenadas como se fossem conversas casuais ou
mesmo delirantes, intensos números musicais (as versões das canções que constam
no filme superam de longe aquelas originais nos álbuns correspondentes),
digressões em cima de fotos e lembranças. Dentro desse poético mosaico de
informações e impressões, prevalece e se preserva intacta a mágica da arte de
Nick Cave em toda a sua sutileza e mistério. A extraordinária seqüência final,
com a câmera se afastando no mar e a imagem do artista solitário na praia cada
vez ficando menor é a síntese perfeita e contundente de tudo o que vimos:
sabemos um pouco mais sobre Cave, mas ele permanece como um fascinante enigma
artístico. E para sempre assim ele deve permanecer....
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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