Na sua divulgação midiática, o Carnaval costuma ser visto como manifestação do espírito alegre do brasileiro. O significado mais próximo dessa festa popular, entretanto, está em obras como “A Lira do Delírio”. Nessa produção brasileira de 1978 dirigida por Walter Lima Jr., o Carnaval apresenta-se com uma tremenda gama de simbologias, refletindo com lucidez o espírito do próprio Brasil – hedonista, generoso, selvagem, corrupto, violento. Todos esses elementos são convertidos na força motriz que alimenta “A Lira do Delírio”. Lima Jr. recicla aspectos caros ao cinema underground brasileiro, em uma narrativa que combina uma trama ficcional de leve teor policial, improvisos, citações referenciais e toques documentais. Por mais que o diretor brinque com a questão do tempo linear, há um rigor que faz com que o filme não caia na mera gratuidade experimental. A montagem também é um grande trunfo de “A Lira do Delírio” ao dar uma ordem lógica, ainda que estranha, para uma série de seqüências que em mãos menos preparadas poderiam se tornar desconexas. Ainda sobre a edição, a forma com que música e imagens se conjugam nas tomadas de festas nas ruas é extraordinária ao conseguir transpor para a tela a alma alucinada e dionisíaca do Carnaval.
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