segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Nine, de Rob Marshall *1/2


Fica até difícil saber por onde começar para tentar explicar como “Nine” (2009), obra mais recente de Rob Marshall, é um tremendo equívoco, pois o filme é um desastre em variados aspectos. Para começar, como musical, ele falha ao se mostrar engessado dentro de uma fórmula gasta e medíocre. A progressão dos números musicais obedece a uma ordem burocrática: o protagonista Guido (Daniel Day-Lewis) e cada uma das mulheres de sua vida ganham seqüências próprias, como se fosse um cartão de visita de suas respectivas e estereotipadas personalidades, com direito a uma constrangedora seqüência inicial em que todos eles se apresentam quase como se um desfile de misses. Além disso, tais números musicais sempre são apresentados como uma espécie de delírio da mente de Guido, sem nunca realmente entrelaçar com a “realidade” da trama. Esse recurso já foi usado com bastante criatividade em “O Show Deve Continuar” (1979) de Bob Fosse e até mesmo “Chicago” (2002) do próprio Marshall. Em “Nine”, entretanto, essa maneira de caracterizar o elemento musical da produção é anti-climático, no sentido que revela o temor de se desvincular de um naturalismo óbvio e acabar perdendo um público não afeito ao gênero musical. Marshall também não obtém uma formatação cinematográfica satisfatória ao transpor a peça original da Broadway para as telas. Em vários momentos do filme, temos a sensação estarmos assistindo a teatro filmado ou até mesmo a um vídeo clip (a seqüência com Kate Hudson parece Britney Spears!). No mais, pelo roteiro em si e a qualidade das canções apresentadas, dá para supor que a própria peça já não era grande coisa.

Pelo lado de encararmos “Nine” como uma refilmagem, homenagem ou coisa que o valha para “8½” (1963) de Fellini, o filme chega ainda ser mais vergonhoso. A dificuldade com as mulheres que o cineasta em crise criativa tinha na produção original expressava uma particular visão de Fellini sobre o machismo e as relações humanas, sem conotações maniqueístas e com uma perspectiva libertária. Em “Nine”, Marshall reduz essa concepção a um simples conflito maniqueísta do protagonista com pendores para Casanova que se arrepende de seus adultérios e quer reconquistar a mulher. Essa solução temática cai em um moralismo simplório que inexistia em “8½ “ e faz desconfiar se Marshall realmente viu o filme do Fellini.

Por mais que figurinos, direção de arte, fotografia e edição de “Nine” sejam competentes, não disfarçam, todavia, uma narrativa amorfa e desprovida de vida. Rob Marshall queimou muito sua credibilidade, e faz com que o expectador interrogue se o oscarizado “Chicago” realmente era tão bom assim.

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