A ambição de Lírio Ferreira em “O Homem Que Engarrafava Nuvens” não foi pouca. Em apenas um documentário de pouco mais de hora e meia ele quis concentrar a cinebiografia de Humberto Teixeira (letrista e parceiro de Luiz Gonzaga), a história do gênero musical baião e o acerto de contas com o passado de Denise Dumont, produtora do filme e filha de Teixeira. Há um excesso de informações e imagens que acaba truncando um pouco a narrativa da obra. Em alguns momentos, as três “tramas” (Humberto-baião-Denise) não estão bem equacionadas entre si – há trechos em que entrevistados discorrem longamente sobre o baião, sendo que quase esquecemos do próprio Humberto Teixeira. O que fica mais destoante, entretanto, é o encaixe das seqüências em que Dumont faz desabafos intimistas sobre seu relacionamento instável com o pai e o abandono da mãe que partiu para os Estados Unidos. A lavação de roupa suja parece intrusiva demais em uma película que, em essência, está mais preocupada em fazer uma celebração da obra artística de um homem e de um estilo musical eminentemente brasileiro.
Os maiores acertos de Ferreira estão nas conexões que estabelece entre o baião e as demais ramificações da música brasileira, tanto em depoimentos esclarecedores de músicos até preciosas imagens de arquivo de variados instantes antológicos da história do nosso cancioneiro. Capta-se tanto números de artistas de rua nordestino como nomes consagrados da MPB dando suas interpretações para composições de Teixeira. Involuntariamente ou não, nessas apresentações Ferreira faz um contraponto das versões rústicas e espontâneas dos músicos mambembes com as adaptações lapidadas e padronizadas dentro de um padrão de bom gosto perpetradas por alguns de nossos medalhões (Maria Bethânia, Gilberto Gil, Lenine, Fagner). No meio dessas duas vertentes, sobressai-se a musicalidade mestiça e desprendida do Cordel do Fogo Encantado e de David Byrne.
Junto com “Olha Que Coisa Mais Linda” (2005), “Moro no Brasil” (2006) e “Brasileirinho” (2007), que versam, respectivamente, sobre a bossa nova, o samba e o choro, “O Homem Que Engarrafava Nunes” ajuda a compor um quadro cinematográfico sobre a evolução da música brasileira em várias de suas vertentes, combinando com eficiência o didático e o prazeroso.
Os maiores acertos de Ferreira estão nas conexões que estabelece entre o baião e as demais ramificações da música brasileira, tanto em depoimentos esclarecedores de músicos até preciosas imagens de arquivo de variados instantes antológicos da história do nosso cancioneiro. Capta-se tanto números de artistas de rua nordestino como nomes consagrados da MPB dando suas interpretações para composições de Teixeira. Involuntariamente ou não, nessas apresentações Ferreira faz um contraponto das versões rústicas e espontâneas dos músicos mambembes com as adaptações lapidadas e padronizadas dentro de um padrão de bom gosto perpetradas por alguns de nossos medalhões (Maria Bethânia, Gilberto Gil, Lenine, Fagner). No meio dessas duas vertentes, sobressai-se a musicalidade mestiça e desprendida do Cordel do Fogo Encantado e de David Byrne.
Junto com “Olha Que Coisa Mais Linda” (2005), “Moro no Brasil” (2006) e “Brasileirinho” (2007), que versam, respectivamente, sobre a bossa nova, o samba e o choro, “O Homem Que Engarrafava Nunes” ajuda a compor um quadro cinematográfico sobre a evolução da música brasileira em várias de suas vertentes, combinando com eficiência o didático e o prazeroso.
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