segunda-feira, julho 22, 2013

L'Apollonide - Os amores da casa de tolerância, de Bertrand Bonelo ****


A abordagem do diretor Bertrand Bonelo sobre o tema da prostituição em “L’Apollonide – Os amores da casa de tolerância” (2011) é barroco em um sentido amplo. Pelo lado formal, o filme traz um requinte visual exuberante, mas sem cair numa reconstituição de época meramente rococó. Já no que diz respeito à visão temática da obra, predomina uma atmosfera que oscila entre o fascínio erótico e a degradação moral e física, numa algo perturbadora dicotomia entre o prazer e a culpa. Assim, estética e conteúdo acabam revelando fina sintonia artística. A fotografia e a direção de arte contribuem para o clima de luxúria e decadência que permeia a trama – cenários e figurinos, junto a enquadramentos de caráter que beiram o pictório, compõem uma ambientação de luxo, lassidão e sensualidade, mas a iluminação de belíssimos tons soturnos também realçam a incômoda e permanente sensação de que algo de errado está para acontecer. E quando acontece, vem em estocadas certeiras em forma de violência e doença. Talvez a pantera encoleirada trazida por um habitual cliente da casa seja uma eficaz simbologia dos perigos que os instintos podem trazer. A abordagem de Bonelo também é peculiar e marcante por uma sensação de atemporalidade, ainda que situe a trama na virada do século XIX para o XX – a impressão é que a casa esteja inserida dentro de uma espécie de universo paralelo, fora dos limites das convenções morais, mas também sujeita a ameaças traiçoeiras. O interessante uso de uma trilha sonora com temas contemporâneos e a contundente conclusão na Paris dos tempos atuais realçam esse aspecto fora do tempo e do espaço e o encanto perverso de “L’Apollonide”

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