Na maioria das oportunidades, quando um diretor de fora dos
Estados Unidos resolve estrear em algum grande estúdio norte-americano acaba
tendo o seu estilo pessoal alterado para se tornar acessível para padrões mais
convencionais. No caso do cineasta sul-coreano Chan-wook Park em “Segredos de
sangue” (2013), entretanto, o que ocorre é a perversão de elementos
tradicionais de acordo com as concepções artísticas do diretor em questão. A
trama do filme traz vários preceitos e clichês inerentes ao gênero do suspense:
mistérios, reviravoltas, violência. Só que nas mãos de Park tudo isso acaba
ganhando uma dimensão bastante particular. A atmosfera da narrativa tem uma conotação
um tanto atemporal, fazendo com que se remeta a algumas produções ocidentais típicas
dos anos 70 na área do terror e do suspense. Park imprimi um rigor estético de
plasticidade admirável – enquadramentos e os tons esmaecidos da iluminação
geram um efeito visual de beleza inextricável, em que até o sangue tem uma
estranha função pictórica. Por outro lado, o clacissismo da montagem não
implica em um academicismo previsível; na verdade, tal edição de poucos e
elegantes cortes valoriza as nuances do roteiro, em que as idas e vindas de
tempo realçam a complexidade de situações e personagens. E se obras anteriores
de Park como “Old Boy” (2003) e “Lady Vingança” (2005) eram marcadas por uma
violência extrema, em “Segredos de sangue” ela está presente em níveis mais
econômicos e sutis, mas nem por isso menos impactante. De ressaltar ainda o
trabalho primoroso na direção do elenco, com destaque para Nicole Kidman e Mia Wasikowska
em interpretações bem mais expressivas que os seus habituais. Diante de um
resultado final tão extraordinário, “Segredos de sangue” não apenas reafirma o
talento de Park como atiça a curiosidade sobre seus futuros trabalhos em solo
norte-americano.
Um comentário:
Nicole Kidman + diretor não americano= filme bom :D
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