segunda-feira, agosto 05, 2013

The Bambi Molesters: Uma noite em Zagreb, de M.A. Littler ***1/2


Os filmes do diretor alemão M.A. Littler são marcados pelo conceito “fora do tempo e do espaço” – mesmo quando situados numa determinada localidade ou num período delimitado, o particular estilo do cineasta faz parecer que tudo está ocorrendo num universo paralelo. O filme-concerto “The Bambi Molesters: Uma noite em Zagreb” (2012) é um exemplar contundente desse preceito. Os Bambi Molesters são uma banda de surf music instrumental da Croácia, sendo que o documentário em questão é o registro na íntegra de uma apresentação do grupo na capital de seu país. Assim, a sensação de estranhamento é uma constante na produção, afinal eles tocam um estilo musical retrô norte-americano e têm o seu show documentado por um alemão! E nem tem mar ou surfistas em Zagreb... Aos poucos, entretanto, percebe-se que nada é tão estanque e que conceitos territoriais e estéticos vão se misturando sem cerimônia. A música dos Bambi Molesters não se limita a uma simples recriação de um gênero. Eles oferecem uma ambientação própria, algo entre o soturno e o pós-punk e com toques folk. A forma com que Littler filma a apresentação é uma extensão não só das suas concepções próprias de cinema como do próprio caráter difuso e mestiço da música da banda. O cineasta consegue captar com sensibilidade uma atmosfera gótica e sexy, o que fica também evidente nas eventuais tomadas externas com os Molesters caminhando pela cidade, cuja arquitetura clássica reforça a sensação de atemporalidade. Os belos jogos de alternância de câmeras fazem lembrar a obra-prima de Scorsese no gênero documentário musical, “O último concerto de rock” (1978). Enfim, o encontro de Bambi Molesters e Littler acaba gerando uma pérola underground típica desses tempos esquisitos em que as definições culturais ficam cada vez mais longe dos rótulos e dos padrões de “normalidade”.

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