Dá para traçar uma diferenciação existencial entre as
respectivas artes de pai e filho Renoir. O pai Auguste, pintor expressionista,
dava uma ênfase para aquilo que era belo e agradável aos olhos. Já o filho
Jean, cineasta, teve como marca registrada em sua filmografia uma visão irônica,
por vezes cínica, outras vezes amarga, das relações humanas. No tratamento
formal de “Renoir” (2012), filme de conotação
biográfica, parece que a preferência foi pela abordagem do patriarca. A
fotografia luminosa, que valoriza tanto a beleza da natureza onde se situa o sítio
do pintor, onde se desenvolve grande parte da ação, quanto a voluptuosidade do
jovem corpo de Andrée (Christa Teret), modelo do artista, mostra uma espécie de
sintonia espiritual com a própria técnica pictórica de Auguste (Michel Bouquet).
Mas o filme não se resume a uma mera exaltação do belo e do bucolismo. Quando
Jean Renoir (Vincent Rottiers) entra em cena, aparece também o elemento de tensão
da produção, em que o idilismo estético de Auguste se confronta com a dura
realidade da guerra que Jean traz no próprio corpo. Por mais que o envolvimento
romântico entre Jean e Andrée prevaleça em alguns momentos, a realidade é que a
tônica central do filme está no embate silencioso e sutil, mas contundente,
entre pai e filho. Os diálogos entre eles trazem um rico subtexto que
sintetizam de forma admirável os dilemas e contradições de uma época. Os
apreciadores de cinema que esperam aquele espírito sardônico típico das produções
mais estimadas de Jean Renoir podem se decepcionar, mas mesmo assim “Renoir” é
uma obra que transcende o simples registro despersonalizado de fatos históricos.
Um comentário:
O filme é otimo e possui uma das mais belas fotografias do ano.
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