quinta-feira, setembro 05, 2013

Não toque no machado, de Jacques Rivette ****


A obsessão na junção entre cinema e literatura de Jacques Rivette atinge um alto grau de excelência artística em “Não toque no machado” (2007). O cineasta francês preserva da obra original de Balzac aquilo que ela tem de essencial: os diálogos que fluem entre o solene e o poético, a dramaticidade que navega entre o sombrio e a ironia sutil. Nesse encruzilhada de mídias, Rivette elabora uma narrativa realista de cunho muito particular – as situações focadas no roteiro, as relações humanas, tudo sugere uma abordagem que foge do idealismo romântico, mas ao mesmo tempo parece que se assiste a uma obra cujo naturalismo pertence a uma outra dimensão. Talvez seja um plano de realidade que se vincule ao universo resultante das fusões das concepções formais e temáticas próprias tanto de Balzac quanto de Rivette. Até o trabalho de direção de arte e figurino mais se relacionam a uma noção de imaginário de uma época do que a um rigor histórico. A atuação do casal protagonista está em sintonia com o ideário estético da obra, sendo que tanto Jeanne Balibar como Guilaume Depardieu trazem caracterizações extraordinária na aura de melancolia e alienação que imprimem em seus respectivos papéis. Dizem que Rivette anda bem doente e que em razão disso dificilmente voltará a filmar. Se isso realmente se concretizar, é inegável que “Não toque no machado” seria uma contundente síntese dos preceitos artísticos que sempre nortearam a sua filmografia.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Assisti quando houve uma mostra especial do diretor aqui em Porto Alegre. Recomendo.