O título desse documentário, sua sinopse e mesmo os
primeiros momentos do filme podem fazer supor que se verá uma espécie de
declaração de amor ao cinema, ou quem sabe haverá discussões e comentários
interessantes sobre clássicas produções ou pérolas obscuras. Pois bem, “Cinemania”
(2002) até tem um pouco disso tudo, mas na essência é algo como uma sombria e
irônica crônica sobre desajustados e perturbados. Como o documentário se passa
em Nova Iorque, dá para dizer que se trata do outro lado do american way of
life. Em algumas oportunidades os cinéfilos focados são bem articulados em suas
considerações, em outras nem tanto, mas o que fica em evidência na maioria das
cenas é uma relação compulsiva com o ato de ver filmes. Quando eles falam sobre
isso, pode-se perceber que raramente há uma efetiva reflexão sobre o que
assistem nas telas, com os cinéfilos apenas enumerando produções, contando
causos excêntricos sobre suas relações obsessivas com cinema. O que predomina
no documentário são criaturas solitárias, tristes, por vezes engraçadas, em
outras até assustadoras. E os diretores Angela Christlieb e Stephen Kijak não
se limitam a apenas colher depoimentos reveladores – eles têm senso cinematográfico
notável nos registros ambientais que fazem, tanto das residências sujas e
repletas de quinquilharias dos seus protagonistas como deles se movendo em seu “habitat
natural” (no caso, salas de cinema).
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