quarta-feira, novembro 27, 2013

Gravidade, de Alfonso Cuarón ***1/2


Boa parte dos comentários que foram feitos em relação à “Gravidade” (2013) faz supor que o filme representa para a ficção científica deste século o que “2011 – Uma odisséia no espaço” (1968) representou para o gênero no século passado. É claro que se trata de um grande exagero. As propostas de tais produções são bem diferentes entre si. A referida obra dirigida por Stanley Kubrick era um drama espacial de cunho existencial e filosófico, enquanto o filme concebido pelo diretor mexicano Alfonso Cuarón se enquadra, em essência, entre a ficção científica e a aventura, com toques de melodrama. A propensão para o escapismo, entretanto, não constitui demérito para “Gravidade”. No campo sensorial, trata-se realmente de um trabalho de peso: a beleza gráfica da criativa direção de fotografia (que varia com elegância e ousadia entre movimentos “gravidade zero” e momentos de pura contemplação) e dos efeitos especiais parecem jogar o espectador no meio do espaço sideral, representando um novo estágio técnico e artístico para o gênero e mostrando que realismo e diversão podem conviver sem problemas. Por outro lado, a narrativa emperra em alguns momentos, pois a trama pedia uma abordagem mais naturalista e por vezes as coisas caem para um misto de intimismo lacrimoso e épico excessivo. Numa trama que se baseia em uma astronauta que se encontra à deriva no espaço, há diálogos e música demais. Faz imaginar que o estilo mais seco e objetivo de um Herzog seria mais adequado. Mesmo com essas ressalvas, “Gravidade” é uma obra memorável e que traz de bônus o indiscutível mérito de Cuarón em ter extraído uma interpretação bastante expressiva de Sandra Bullock.

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