Boa parte dos comentários que foram feitos em relação à “Gravidade”
(2013) faz supor que o filme representa para a ficção científica deste século o
que “2011 – Uma odisséia no espaço” (1968) representou para o gênero no século
passado. É claro que se trata de um grande exagero. As propostas de tais produções
são bem diferentes entre si. A referida obra dirigida por Stanley Kubrick era
um drama espacial de cunho existencial e filosófico, enquanto o filme concebido
pelo diretor mexicano Alfonso Cuarón se enquadra, em essência, entre a ficção
científica e a aventura, com toques de melodrama. A propensão para o escapismo,
entretanto, não constitui demérito para “Gravidade”. No campo sensorial,
trata-se realmente de um trabalho de peso: a beleza gráfica da criativa direção
de fotografia (que varia com elegância e ousadia entre movimentos “gravidade
zero” e momentos de pura contemplação) e dos efeitos especiais parecem jogar o
espectador no meio do espaço sideral, representando um novo estágio técnico e
artístico para o gênero e mostrando que realismo e diversão podem conviver sem
problemas. Por outro lado, a narrativa emperra em alguns momentos, pois a trama
pedia uma abordagem mais naturalista e por vezes as coisas caem para um misto
de intimismo lacrimoso e épico excessivo. Numa trama que se baseia em uma
astronauta que se encontra à deriva no espaço, há diálogos e música demais. Faz
imaginar que o estilo mais seco e objetivo de um Herzog seria mais adequado. Mesmo
com essas ressalvas, “Gravidade” é uma obra memorável e que traz de bônus o
indiscutível mérito de Cuarón em ter extraído uma interpretação bastante
expressiva de Sandra Bullock.
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