As relações que se estabelecem entre “O verão do Skylab”
(2011) com outras produções que estrearam em Porto Alegre em 2013 tanto podem
parecer coincidências como também podem sugerir conseqüências naturais. No
primeiro caso, não há como não lembrar do extraordinário “Depois de maio”
(2012), que fazia um retrato poético e amargo dos primeiros anos após o
conturbado maio de 1968 na França, enquanto o filme de Julie Delpy focaliza um
dia na virada entre 1979 e 1980 e mostra ainda, através do microcosmo de uma
reunião familiar, uma sociedade dividida entre aqueles impregnados por um ideário
libertário e outros bastante críticos e conservadores sobre tais ideais. Já “Antes
da meia-noite” (2013) mostrou muito da capacidade autoral de Julie Delpy, que
além de atuar também colaborou de forma decisiva no roteiro. Tais referências
enriquecem ainda mais a apreciação de “O verão do Skylab”, mas tal obra pode
ser apreciada perfeitamente prescindindo de tais comparações. Trata-se de uma
produção de admirável maturidade em sua concepção. Delpy se vale de uma
premissa já utilizada várias vezes (a reunião familiar que oscila entre a
diversão, a nostalgia e a ironia) e ainda assim entrega um filme vigoroso e
arejado. O filme é divertido ao extremo mostrando as brincadeiras, piadas e
brigas típicas nesse tipo de reunião, assim como traz a dose de certa de
melancolia ao focalizar as ilusões perdidas de alguns personagens. E nesse
conjunto de um drama familiar, apresenta com sutileza um subtexto de forte
conteúdo político e social ao radiografar os valores e contradições da
sociedade francesa. E é claro que não daria para esquecer o fenomenal trabalho
de direção de elenco, com um destaque especial para a ala infanto-juvenil –
Delpy se coloca com honras numa tradição do cinema francês de cineasta que
retratam com doçura e contundência o universo de crianças e adolescente, vide
obras como “Zero de comportamento” (1933), “Os incompreendidos” (1959) e “Ponette”
(1996).
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